Jamil Chade

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Reportagem

Trump enviará fuzileiros para Los Angeles, amplia tensão e atos se espalham

Depois de abrir uma crise institucional ao enviar soldados para Los Angeles, o governo de Donald Trump dobra a aposta e indica que irá destacar cerca de 700 fuzileiros navais para a cidade na Califórnia. O local passou a ser alvo de protestos desde sexta-feira diante da ofensiva do governo americano na detenção e deportação de imigrantes.

O anúncio representa uma escalada na ofensiva da Casa Branca, ampliou a tensão política e levou senadores democratas a articular a apresentação de um projeto de lei em caráter de urgência para limitar o poder do presidente no destacamento de tropas em solo americano. "Nossos militares devem ser usados para defender o interesse nacional e segurança, não para silenciar protestos em casa", disse o senador Richard Blumenthal, um dos articuladores do projeto.

O anúncio ocorre horas antes de protestos organizados em cerca de 20 cidades pelos EUA. Em Nova York, o prefeito Eric Adams convocou a imprensa para fazer um anúncio de que "não irá tolerar" que a violência registrada em Los Angeles se ela se repetir em sua cidade. Aliado de Trump, Adams indicou que ordenou os agentes de segurança a "impedir" qualquer distúrbio.

Em Los Angeles, o UOL apurou que entidades de apoio a imigrantes se prepararam para mais uma noite de possíveis enfrentamentos. Parte dos atos foram organizados para pedir a libertação do sindicalista David Huerta, preso na sexta-feira nos protestos contra as políticas de imigração

Fantasia perturbadora de um presidente ditatorial

Os fuzileiros navais - conhecidos como Marines - não teriam um prazo para deixar a cidade e o gesto foi recebido tanto pelo governo democrata da Califórnia, Gavin Newsom, como por autoridades locais como uma provocação. O governo tampouco explicou como justifica legalmente o envio dos fuzileiros usados em combates no Iraque ou Afeganistão.

"Os fuzileiros navais dos EUA serviram honrosamente em várias guerras em defesa da democracia. Eles são heróis", disse Newsom. "Eles não deveriam ser mobilizados em solo americano, enfrentando seus próprios compatriotas, para realizar a fantasia perturbada de um presidente ditatorial", acusou. "Isso é antiamericano", completou.

O governo estadual abriu um processo nas cortes contra Trump.

O que diz o anúncio

Raramente usados em solo americano, os fuzileiros foram destacados nos ataques de 11 de setembro de 2001 e no furacão Katrina. Num comunicado, o Comando Norte dos EUA afirma que "ativou o batalhão de infantaria dos fuzileiros navais que foi colocado em estado de alerta no fim de semana".

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"Aproximadamente 700 fuzileiros navais do 2º Batalhão, 7º de Fuzileiros Navais, 1ª Divisão de Fuzileiros Navais se integrarão perfeitamente às forças do Título 10 da Força-Tarefa 51, que estão protegendo o pessoal e as propriedades federais na área metropolitana de Los Angeles", disse.

"A ativação dos fuzileiros navais tem o objetivo de fornecer à Força-Tarefa 51 um número adequado de forças para oferecer cobertura contínua da área em apoio à agência federal líder", explicou.

"A Força-Tarefa 51 é o Posto de Comando de Contingência do Exército Norte dos EUA, que oferece uma capacidade de rápida implantação para formar parcerias com autoridades civis em resposta às Operações de Defesa e Segurança Interna. Ele é comandado pelo major-general Scott M. Sherman", afirmou.

Segundo o comunicado, a Força-Tarefa 51 é composta por aproximadamente 2.100 soldados da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais em serviço ativo. "As forças da Força-Tarefa 51 foram treinadas em redução de escala, controle de multidões e regras permanentes para o uso da força", disse.

Guerra civil

Newsom acusou Trump de querer criar uma "guerra civil" e denunciou o envio de tropas como ilegal. O destacamento da Guarda Nacional apenas pode ocorrer, segundo ele, com o consentimento do estado. Desde os anos de 1960 tal imposição não ocorria.

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Por enquanto, cerca de 300 soldados da Guarda Nacional já estão nas ruas de Los Angeles. Mas o número deve subir para 2 mil até quarta-feira. Os fuzileiros navais seriam enviados para garantir um apoio a essas tropas.

Trump, porém, não deixou claro se considera que existe uma insurreição na cidade. Caso os distúrbios sejam considerados desta forma, as tropas e os fuzileiros poderiam não apenas proteger as propriedades federais e os agentes de imigração, mas também atuar para implementar ordens e realizar prisões.

De acordo com a Fox News, os fuzileiros navais são do 2o Batalhão, em Twentynine Palms, Califórnia.

Instantes antes do anúncio, Trump fez mistério sobre o envio dos fuzileiros. "Veremos o que acontece. Quero dizer, acho que temos tudo muito bem sob controle. Acho que teria sido uma situação muito ruim. Estava indo na direção errada, agora está indo na direção certa", disse.

Newsom ainda insistiu que Trump estaria fabricando a crise, denunciou seu "autoritarismo" e alertou que a manobra teria um objetivo político de minar o democrata, um potencial candidato presidencial.

O governador desafiou a Casa Branca a prendê-lo.

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Trump respondeu de forma afirmativa, indicando que faria a prisão. Mas questionado sobre o crime que teria cometido Newsom, o presidente não soube responder.

Reportagem

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