Jamil Chade

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Opinião

Senador algemado, tropa e delação: EUA se perguntam se democracia resistirá

As cenas do senador da Califórnia Alex Padilla sendo algemado por policiais federais ao tentar fazer uma pergunta para a secretária de Interior do governo de Donald Trump eclodiu como uma incômoda pergunta: os EUA ainda são uma democracia?

O caso ocorreu na tarde desta quinta-feira, durante uma coletiva de imprensa do governo federal. Padilla, que queria respostas - e não havia obtido - sobre o envio de fuzileiros navais a seus estado, decidiu ir à conferência e fazer as perguntas.

Apesar de ter se identificado, foi jogado no chão e algemado. Filho de imigrantes mexicanos que chegaram aos EUA para limpar banheiros e cozinhar, Padilla conseguiu a nacionalidade americanas, se formou como engenheiro no MIT e se elegeu senador de um dos estados mais ricos do mundo.

As cenas de violência levaram dezenas de políticos a denunciar o "caráter ditatorial" do governo Trump, enquanto redes de televisão se questionavam ao vivo se o Rubicão havia sido cruzado. Um dois líderes dos democratas, o deputado Jamie Raskin, chegou a alertar nesta quinta-feira que o "autoritarismo está fora de controle" no governo. "Trump precisa ser contido pelas cortes e pelo povo", defendeu.

O senador acabou solto. Mas lançou uma pergunta: se o governo Trump está fazendo isso com um senador, imagina com milhares de estrangeiros anônimos e vulneráveis?

O caso ocorreu um dia depois de a Casa Branca publicar em suas redes sociais um cartaz com a mesma estética de um regime totalitário, incentivando os americanos a deletar seus vizinhos, colegas de trabalho ou qualquer um que não esteja com seus documentos regularizados no país.

A ofensiva ainda coincide com o envio de mais de 4.700 tropas e fuzileiros navais para supostamente controlar manifestações em Los Angeles. Isso tudo sem o acordo do governo estadual. Trump aproveitou ainda para assinar uma determinação que permite que as tropas sejam enviadas para qualquer lugar do país, caso ele considere que existe um risco de insurreição.

É neste cenário de forte tensão social que, neste sábado, o palco está montado para uma eventual crise de grandes proporções. Trump ordenou a realização de um desfile militar em Washington para marcar os 250 anos do Exército, justamente no dia de seu próprio aniversário. Com um orçamento de mais de US$ 40 milhões, o desfile repete cenas que o mundo está acostumado a ver de regimes autoritários.

Trump ainda avisou: qualquer manifestação na capital vai ser "respondida com força".

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Em Nova York, Los Angeles, Boston e por todo o país, porém, a sociedade civil se organiza para sair às ruas e batizou o sábado de "Dia Sem Rei", numa alusão às intenções do atual presidente.

Ao UOL, de forma confidencial, um dos organizadores de origem latina e que pediu para não ser identificado, avisou que o clima dos manifestantes é de muita tensão. "O clima está muito acirrado. Ninguém sabe o que vai acontecer no sábado", confessou.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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