Com tropas e milhões de pessoas nas ruas, EUA vivem dia de tensão e teste
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De um lado, um desfile inédito das tropas americanas pelas ruas de Washington, numa demonstração de força e "patriotismo" por parte do governo de Donald Trump. De outro, milhões de pessoas em quase 2 mil protestos organizados em todos os 50 estados americanos contra o presidente e suas políticas contra imigrantes.
Neste sábado, por volta das 15h (em Brasília, 14h em Washington DC) as cidades americanas se preparam para viver um dia de tensão, em meio à decisão da Casa Branca de emitir ordens para que a Guarda Nacional atue onde for considerado como necessário e onde uma "rebelião" ou "insurreição" puder ocorrer. A tensão ainda aumentou depois que o senador Alex Padilla foi algemado e jogado ao chão ao tentar fazer uma pergunta a uma autoridade do governo Trump.
A data marca os 250 anos das Forças Armadas americanas e, para celebrar sua força militar, Trump ordenou a realização de um desfile das tropas pela capital. O gesto rompe um tabu na história das instituições americanas, avessas aos desfiles. A data ainda coincide com o aniversário de 79 anos de Trump.
O presidente também fará um discurso, no qual irá destacar os feitos das forças americanas ao longo da história. Mas ele deve usar ainda o palco para mandar uma mensagem a seus opositores.
Pelas ruas de Washington desfilarão 6,6 mil soldados, 50 aeronaves militares, 150 veículos, cavalaria e um show aéreo com helicópteros, aeronaves e paraquedistas.
Oficialmente, o evento custará US$ 45 milhões. Desse total, US$ 16 milhões serão usados para reparar as ruas de Washington danificadas pelos tanques, após o desfile.
Em uma entrevista à NBC News, no mês passado, Trump rejeitou a acusação de que os valores seriam excessivos. "São insignificantes em comparação com o valor de fazê-lo", insistiu. "Temos os melhores mísseis do mundo. Temos os melhores submarinos do mundo. Temos os maiores tanques do exército do mundo. Temos as melhores armas do mundo. E vamos comemorar isso", insistiu.
O ato faz parte de uma ofensiva de promoção "patriotismo" do governo ultraconservador. Além do desfile, Trump assinou decretos para mudar nomes de bases militares, "restabelecer a verdade" na forma de apresentar a história do país, proibir livros sobre diversidade nas academias militares e censurar exposições que não façam uma apologia ao sentimento "patriótico".
"Dia sem Rei"
O desfile, porém, ocorre no mesmo momento em que ativistas por dezenas de cidades vão promover atos para "rejeitar o autoritarismo e a militarização da nossa democracia". A data está sendo chamada de "Dia sem Rei", numa alusão à tentativa de Trump de impor suas políticas, violando as leis. Para os organizadores, o desfile militar é uma "demonstração de poder similar ao que fazem ditaduras pelo mundo".
Os atos vão ocorrer em Nova York, Seattle, Chicago, Austin, Las Vegas e dezenas de outras cidades. Trump alertou, porém, que qualquer manifestação em Washington DC será respondida "com força", enquanto ativistas preparam um ato chamado "recuse o fascismo". Apenas na Califórnia são mais de 200 eventos previstos.
Em abril, ativistas afirmam que conseguiram levar 3,5 milhões de pessoas às ruas. Agora, a expectativa é de que o número seja ainda maior. Na última quarta-feira, os organizadores dos protestos realizaram uma vídeo conferência para repassar informações aos grupos locais. 4 mil pessoas apareceram.
Os atos também estão levando o governo federal e seus aliados pelo país a se prepararem. Numa audiência no Congresso, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, não destacou o uso da Guarda Nacional em outros estados.
O governador do Texas e aliado de Trump, Greg Abbott, já recorreu às tropas nesta semana, em preparação aos atos contra o presidente em San Antonio.
No estado de Missouri, o governador Mike Kehoe já acionou a Guarda Nacional como uma "medida de precaução" diante dos distúrbios ocorridos em outros lugares do país.
Em Nova York, o prefeito Eric Adams - um aliado de Trump depois que foi perdoado pelo presidente em um caso de corrupção - alertou que não irá tolerar violência por parte dos manifestantes.
Na Carolina do Sul, o procurador geral Alan Wilson chegou a qualificar os manifestantes como "grupos radicais antiamericanos".
Na Casa Branca, a ordem é minimizar os protestos. "Eu nem sequer ouvi falar de um protesto, mas você sabe, são pessoas que odeiam nosso país, mas elas serão enfrentadas com força muito pesada", disse Trump.
Perguntada na quarta-feira se Trump apoiaria protestos pacíficos, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse: "É claro que o presidente apoia protestos pacíficos. Que pergunta estúpida".
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