Sob forte policiamento, atos se espalham contra Trump: 'Não temos reis'
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"Não temos reis". Foi com esse lema que milhares de pessoas ocuparam dez quarteirões da 5ª avenida de Nova York, uma das principais artérias da cidade. O protesto faz parte de 1,8 mil atos realizados neste sábado pelos EUA para denunciar as políticas de Donald Trump, num sinal cada vez maior de um mal-estar diante das atitudes do republicano.
Com o assassinato de uma deputada democrata e a tensão nos últimos dias, marchas em diferentes partes do país foram alvo de um amplo esquema de policiamento e um sentimento de incerteza entre os organizadores. Mas a população não se intimidou, nem mesmo em Los Angeles - epicentro da crise e para onde Trump enviou fuzileiros navais e tropas.
Em abril, 3,5 milhões de americanos saíram às ruas contra Trump. Agora, a esperança dos organizadores é de que o número seja superado e que a data seja marcada pelo maior movimento contra o presidente, desde o início de seu governo.
Em Nova York, a estimativa dos organizadores era de 75 mil pessoas estivessem no local como uma reação à decisão de Trump de convocar para Washington um desfile militar, inédito na história recente americana.
Mas a polícia fez questão de alertar que não toleraria violência e, apesar de não revelar os números, apontou que iria incrementar de forma significativa o dispositivo de segurança.
Em Minnesota, os protestos foram cancelados diante do assassinato de uma deputada estadual. No Texas, uma "ameaça crível" foi feita contra os legisladores do estado que planejavam participar do protesto em Austin. "Por uma questão de cautela, o Capitólio (estadual) foi evacuado por volta das 13 horas e permanece temporariamente fechado", disse a polícia local.
Manifestantes em Nova York admitiram que esse era um "cenário novo" para uma geração inteira de americanos. Pelas ruas, exemplares da constituição eram vistos. "Jamais imaginei que estaria vivendo isso", afirmou Beth, uma americana de 72 anos, ao lado de sua irmã.
Na cidade da costa leste, um dos destaques foi a presença de Susan Sarandon, a atriz que venceu o Oscar. Na liderança da marcha, ela carregava uma faixa contra Trump.
O ato ainda foi marcado por uma presença constante de bandeiras americanas. A data coincidia com o Dia da Bandeira, mas também foi uma reação às acusações por parte do governo Trump de que os protestos estariam sendo feitos por estrangeiros e "invasores". Em Los Angeles, no início da semana, bandeiras mexicanas dominaram as manifestações, levando a Casa Branca a instrumentalizar as imagens para acusar os manifestantes de serem "anti-americanos".
"Aqui não temos reis", insistiu Caroline Poweill, uma estudante de 22 anos e que improvisou uma bandeira americana como máscara. "Não confiamos mais em nossa polícia", disse. "Isso é trágico para uma democracia", lamentou.

O UOL presenciou como dezenas dos policiais colocados para atuar no protesto eram de origem latina e falavam em espanhol com grupos de manifestantes que atacavam as políticas de imigração do governo.
Pela marcha, os cartazes traziam denúncias contra o autoritarismo de Trump, acusavam suas políticas de violações à constituição e alertavam sobre o risco que corre a democracia no país. "Não vamos tolerar o que estamos vendo", disse Paul, um aposentado que, com seu andador, fez questão de estar sob a chuva de Nova York.
Não faltaram, porém, provocadores. Um deles era um homem caminhava pela multidão zombando das pessoas e fazendo elogios ao presidente. Organizadores rapidamente tentaram alertar sobre o risco que um confronto com ele poderia representar um avanço da polícia para todos. Mesmo assim, o indivíduo percorria a avenida, tentando chamar a atenção.
Por uma das avenidas mais famosas do mundo, não faltaram ainda bandeiras da Palestina e denúncias contra Israel, assim como denúncias das violações de direitos humanos por parte do governo americano.
Na Filadélfia, o tom foi dado por Martin Luther King III, o filho mais velho do líder dos direitos civi. "É a energia que, esperamos, seja infecciosa e contagiosa, porque nós, como sociedade, precisamos parar de nos voltar uns contra os outros", disse Martin Luther King III.
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