Jamil Chade

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Reportagem

Morador de Teerã relata ao UOL vida sob bombas: 'Esperança e medo'

Viver hoje em Teerã é um desafio que envolve buscar notícias por fontes alternativas, conseguir alimentos e se esconder das bombas lançadas por Israel. Mas, segundo um morador da capital que pediu anonimato diante do temor da repressão, é também um momento de esperança. "O que mais sonhamos é com a democracia", disse.

Em conversa com o UOL, o jovem iraniano professor de filosofia pediu para não ser identificado ao relatar como é morar hoje na capital do Irã. "Não cite meu nome, pode ser muito arriscado", explicou.

"Os ataques não param, dia e noite. O que mais se ouve é a rajada de aviões e barulhos de mísseis. Teerã tem uma população de 15 milhões de habitantes e acredito que cerca de 5 milhões deles já deixaram a cidade", disse.

"Muitos saíram antes mesmo do anúncio de Donald Trump de que Teerã deveria ser "evacuada"", contou. "Alguns até optaram por ficar quando o presidente americano declarou isso", ironizou o morador.

Um dos principais problemas, segundo ele, é que começa a faltar tudo. "Já há já escassez de água, cigarros e pão. Tudo ficou 25% mais caro em poucos dias", contou.

Segundo ele, as pessoas ficam o maior tempo possível dentro de suas casas. "Não há praticamente nenhuma orientação por parte do governo. Quem está sozinho tenta encontrar famílias para se manter juntos e ter companhia", disse.

"São as pessoas que trocam informações sobre como se cuidar, como se esconder de bombas, como lidar com as crianças e com o stress", contou.

O acesso à informação deixou de ser os canais estatais do governo. "Abandonamos tudo isso. Não há como acreditar no que dizem. Seguimos informações por diferentes canais no Telegram", disse.

O acadêmico explicou que a população hoje se divide em dois grupos: "Aqueles que querem o fim do regime e quem quer que a guerra acabe, mesmo que isso signifique tolerar o regime da república islâmica que tanto odeiam".

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Mas ele destaca que houve "muita celebração" com o anúncio das mortes de alguns dos principais generais do país, nos últimos dias. "Alguns de nós estamos esperançosos que haja um colapso do regime. Mas ninguém sabe o que virá depois", alertou.

A esperança de muitos, segundo ele, é que o destino do Irã não seja uma repetição do caos que se estabeleceu no Iraque depois da queda de Saddam Hussein. "Até a pior democracia é melhor que uma ditadura", disse.

Por enquanto, explicou o professor, há um "silêncio" por parte da oposição sobre como deve ser estruturado o novo governo, se eventualmente o líder supremo Ali Khamenei sucumbir.

"Está obvio que o Irã perderá a guerra se os EUA aderirem aos ataques", afirmou. Entre a população, não há esperança de que o regime conseguirá se defender. "Os mísseis logo vão se esgotar", alertou.

Sua avaliação é de que há um sentimento de que o regime vive seu "momento mais fraco em 47 anos".

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