EUA ameaçam entrada de 1,4 bi de pessoas; alvos são África e países pobres

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O governo de Donald Trump considera incluir mais 36 países na lista de nações que teriam seus cidadãos vetados completamente ou parcialmente de entrar nos EUA. A Casa Branca já determinou o veto total para pessoas de 12 países, além de barreiras para outros sete.
Se a nova lista entrar em vigor com os novos governos sob análise, a política migratória do governo significará que potencialmente cerca de 1,4 bilhão de pessoas pelo mundo serão oficialmente impedidas de entrar nos EUA ou sofrerão duros obstáculos para a obtenção de vistos.
Isso significaria que o muro legal criado pelo governo Trump afetaria o equivalente a 16% da população mundial. Ou um a cada seis habitantes do planeta, principalmente africanos.
Viajar de qualquer país da África para os Estados Unidos jamais foi fácil. Os vistos americanos são frequentemente rejeitados e as taxas consulares cobradas excluem milhões de pessoas. Agora, porém, o veto é institucional e atinge de forma indiscriminada.
Oficialmente, a Casa Branca argumenta que se trata de países que são considerados como "apoiadores do terrorismo contra os EUA" ou que não contam com dados centralizados sobre seus próprios cidadãos. Também estão na lista países que adotariam uma "postura antissemita" ou onde o governo estaria envolvido em "fraude sistêmica".
O documento que apresenta o plano foi assinado pelo secretário de Estado Marco Rubio e foi primeiro revelado pelo jornal The Washington Post. A Casa Branca confirmou a veracidade da informação. Mas se recusou a dizer quando o projeto entraria em vigor.
Num comunicado, o Departamento de Segurança Doméstica explicou que "limitar a entrada de pessoas desses países ajudaria a garantir a segurança dos EUA e faria nossas comunidades se sentir mais seguras".
Barganha com seres humanos
Mas o governo também sinaliza que poderia estar aberto a uma negociação, ameaçando fechar os EUA para esses países caso eles não colaborem com o plano de deportação em massa de Trump. Governo, portanto, poderiam evitar o banimento total ou parcial de viagens de seus nacionais se aceitassem receber voos de deportados de suas nacionalidades respectivas.
"Esse é um passo necessário para obter a cooperação de governos estrangeiros para aceitar voos de deportação de seus próprios cidadãos, fortalecer a segurança nacional e ajudar a restaurar a integridade do sistema de imigração", disse o Departamento de Segurança Doméstica.
Atualmente, o governo americano envia uma parte dos deportados para prisões de segurança máxima em El Salvador, principalmente quando se trata de supostos criminosos de países que não aceitam recebê-los de volta.
Se em 60 dias esses governos não oferecerem uma alternativa, as medidas entrarão em vigor contra seus nacionais.
Perfil da lista é dominado por países pobres e de maioria negra
Apesar da lista ser estabelecida supostamente com base em temas de segurança nacional, governos africanos destacaram que existe um perfil explícito ao fechar a entrada dos EUA: negros e pobres.
Dos 36 novos países sendo considerados, 25 deles estão na África e com populações importantes como Angola, República Democrática do Congo, Nigéria ou Egito. Na lista anterior, dos 19 países atingidos, dez eram africanos, entre elas a República do Congo.
A reação no continente africano foi de indignação. No Chade, por exemplo, o governo decidiu suspender todos os vistos para cidadãos americanos por uma questão de "reciprocidade". "O Chade não tem aviões para oferecer nem bilhões de dólares para dar, mas o Chade tem sua dignidade e orgulho", anunciou o presidente Mahamat Idriss Déby Itno em uma publicação no Facebook e fazendo alusão ao avião que Trump ganhou do Catar.
David R. Gilmour, embaixador dos EUA na Guiné Equatorial, culpou a população do país africano pela decisão de Trump. Segundo ele, 70% dos cidadãos do país africano que viajam para os Estados Unidos para estudar tentam ficar em território americano, depois que seus vistos expiram.
"As pessoas de Guiné Equatorial que não respeitaram a lei de imigração dos EUA estão causando um problema que restringiu a viagem de seus concidadãos", escreveu ele nas redes sociais. "Se você conhece alguém que está atualmente nos Estados Unidos sem um visto válido, diga a essa pessoa para retornar à Guiné Equatorial imediatamente", completou.
A lista também coincide com a classificação de alguns dos países mais pobres do mundo.
Veja quais países podem ser atingidos por um banimento total ou parcial
Angola; Antígua e Barbuda; Benin; Butão; Burkina Faso; Cabo Verde; Camboja; Camarões; Costa do Marfim; República Democrática do Congo; Djibuti; Dominica; Etiópia; Egito; Gabão; Gâmbia; Gana; Quirguistão; Libéria; Malaui; Mauritânia; Níger; Nigéria; São Cristóvão e Névis; Santa Lúcia; São Tomé e Príncipe; Senegal; Sudão do Sul; Síria; Tanzânia; Tonga; Tuvalu; Uganda; Vanuatu; Zâmbia; e Zimbábue.
Veja os países já afetados por um banimento total
Afeganistão, Myanmar, Chade, República do Congo, Guiné Equatorial, Eritreia, Haiti, Irã, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen.
Veja os países com um banimento parcial
Burundi, Cuba, Laos, Serra Leoa, Togo, Turcomenistão e Venezuela.
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