Jamil Chade

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Sob Trump, Fifa esconde campanha contra racismo no Mundial de Clubes

A Fifa esconde e reduz as mensagens de combate ao racismo durante o Mundial de Clubes, disputada nos EUA. A decisão, que rompe um compromisso de anos da entidade com um dos temas mais presentes no futebol, ocorre num momento em que Donald Trump ameaça instituições que conduzem ações de promoção da diversidade e combate ao racismo.

Ao longo dos últimos meses, o presidente americano ordenou que universidades, ministérios, órgãos públicos e museus encerrassem campanhas anti-racistas, além de assinar decretos insistindo que não existe motivo para que o racismo seja tratado como um problema sistêmico nos EUA.

Assim que assumiu o governo, no início do ano, Trump ainda esteve na final do Super Bowl, entre os Kansas City Chiefs e Philadelphia Eagles. O evento também suprimiu as mensagens de combate ao racismo que tinha marcado a NFL nos últimos anos.

No Mundial de Clubes, a tradicional campanha da Fifa também sumiu nos primeiros jogos. Nas braçadeiras dos capitães, a única frase era a de que "o futebol une o mundo", enquanto os cartazes que eram levados ao campo pelos jogadores foram suprimidos.

O site The Athletic revelou que a Fifa havia produzido um material para usar o palco da competição para passar o recado. Mas, sem explicações, nenhuma campanha foi veiculada, nem nos estádios e nem nas redes sociais.

A reação negativa gerada pela supressão das mensagens levou a Fifa a reinstalar algumas das iniciativas. Na quarta-feira, 30 minutos antes de um jogo entre o Real Madri e o Al Hilal, a entidade colocou nos telões do estádio um vídeo com sua campanha "No To Racism". Naquele momento, o estádio ainda estava praticamente vazio. Ao redor do gramado, a frase também foi veiculada.

Imediatamente, o presidente da Fifa Gianni Infantino foi às redes sociais para destacar o "compromisso" da entidade com o combate ao racismo. Tratava-se de um gesto diante do Dia Internacional contra o Discurso de Ódio.

Mas isso não significou que a campanha fora retomada por completo. No jogo entre Palmeiras e Al Ahly, em Nova York na quinta-feira, não houve qualquer referência ao tema. Na sexta-feira, 30 minutos antes do jogo entre Flamengo e Chelsea, uma vez mais o vídeo foi colocado no estádio. Mas sem ainda a transmissão da partida pelas televisões.

Em outros jogos na sexta-feira, um apelo à "não discriminação" também surgiu no telão, mas sem uma referência ao racismo. A menção ao combate à discriminação é tolerada pela Casa Branca, já que implica que brancos tampouco podem ser alvo de injustiças.

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Infantino, nos últimos meses, passou a nutrir uma relação de proximidade com Trump. Segundo fontes na Conmebol, seu temor é que a Copa do Mundo em 2026 nos EUA seja afetada pelas diferentes crises criadas pela Casa Branca ou que o presidente reabra negociações para exigir um novo comportamento por parte da Fifa, principalmente na questão comercial.

Trump também sabe que pode usar o futebol como palanque, principalmente entre a comunidade latina e que soma 60 milhões de pessoas no país.

O presidente da Fifa ganhou um lugar de destaque na posse de Trump, em 20 de janeiro. Ao longo de semanas, a taça da Copa ainda ficou em um lugar privilegiado do Salão Oval e Infantino foi recebido em diferentes ocasiões. O cartola ainda prolífera fotos em suas redes ao lado de Trump.

Ao mesmo tempo, a intensa campanha que a Fifa fez na Copa de 2022 por minorias ou contra crimes de ódio e de racismo perdeu força e ativistas hoje se questionam de que forma a entidade vai lidar com esse tema na Copa do Mundo de 2026. 80% dos jogos serão disputados nos EUA, com o restante no Canadá e México.

O desaparecimento das campanhas ocorre ainda poucas semanas depois de a Fifa ter anunciado, com alarde, a aprovação de novas regras para combater o racismo. Em maio, a entidade adotou uma modificação em seu código de disciplina que prevê punições duras contra jogadores, equipe técnica e torcida em caso de atos racistas. As multas ainda subirão para US$ 5 milhões.

Posição da Fifa

Procurada pelo UOL, a Fifa informou: "'Futebol une o mundo' é a principal campanha global da Fifa, que é mostrada em todos os estádios da Copa do Mundo de Clubes Fifa antes e durante os jogos, assim como nas plataformas sociais da Fifa."

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"A Fifa tem uma firme posição de tolerância-zero contra todas as formas de discriminação e racismo. Esse compromissos foi recentemente reforçado por uma decisão unânime aprovada pelo Conselho da Fifa de revisar o Código Disciplinar, que introduziu novas medidas na luta contra o abuso racismo - incluindo aumentar as penas mínimas por incidente racistas e aumentar as punições financeiras como informado no 75º Congresso da Fifa em Assunção em maio de 2025."

Além disso, a entidade reforçou que há um protocolo anti-discriminação em três passos que dá poder aos árbitros tomarem medidas graduais se houver incidentes discriminatórias.

Outro ponto ressaltado pela Fifa é que há um serviço de proteção em mídias sociais feito pela entidade. O objetivo é evitar assédio online a clubes, jogadores e árbitros, além do próprio público.

A entidade ainda reforçou que outras medidas serão tomadas pela entidade como a criação de um painel de jogadores para tratar da questão do racismo.

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