Ministro denuncia 'uso de tarifas como arma', às vésperas de prazo de Trump

Ler resumo da notícia
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou a imposição de tarifas por parte de Donald Trump, faltando poucos dias para o prazo dado pela Casa Branca para o fim do período de negociações com governos de todo o mundo sobre a nova estrutura comercial dos EUA.
Num artigo numa revista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), o chanceler alertou sobre o impacto das medidas anunciadas pelo governo americano.
"A recente adoção de medidas comerciais unilaterais pelos Estados Unidos, o uso de tarifas como arma e o risco latente de uma guerra comercial global põem em risco um sistema multilateral de comércio que já se encontrava em crise profunda", escreveu.
Ele ainda destacou que, diante da inexistência hoje de órgãos internacionais capazes de frear tais posturas, o custo de violar as regras internacionais é baixo.
"A perda de relevância política da Organização Mundial do Comércio e o esvaziamento dos instrumentos que ela detinha para fazer valer as regras multilateralmente acordadas, em processos anteriores à crise atual, abriram caminho para que a escalada em curso pudesse ocorrer, sem qualquer custo político ou econômico para os envolvido", constatou.
Trump deu até 9 de julho para que governos negociem acordos que evitariam tarifas para seus produtos no mercado americano. Mas, faltando poucos dias para o fim do prazo, a Casa Branca pena para anunciar entendimentos. Por enquanto, apenas China, Vietnã e Reino Unido chegaram a algum tipo de acordo e, mesmo assim, de forma provisória.
No caso brasileiro, como o UOL revelou, o governo Lula submeteu uma oferta comercial há cerca de dez dias. Mas Trump jamais respondeu. A opção do Brasil foi por abrir canais de diálogo e evitar retaliações.
O Brasil hoje enfrenta uma tarifa extra de 10% em todos os produtos, além de barreiras mais significativas no setor de aço e autopeças.
Concessões
Apesar do silêncio por parte da Casa Branca com o Brasil, os acordos assinados por Trump são vistos por entidades como reveladores da disposição americana em negociar.
Num documento, a Câmara de Comércio Brasil-EUA destaca que o anúncio do pacto entre os americanos e britânicos serviria de "lição".
"O Reino Unido obteve concessões importantes, demonstrando que há espaço para avançar em negociações com os EUA", disse a entidade. "O acordo traz compromissos em setores centrais para o Brasil, do ponto de vista ofensivo e defensivo, como etanol, carne bovina, aeronaves, autopeças e aço e alumínio", constata.
"Conforme os documentos publicados até o momento pelos dois países, o acordo traz aprendizados importantes para uma possível negociação entre o Brasil e os EUA", diz.
Entre eles estão:
Negociação de cotas com tarifas mais reduzidas em bens sujeitos às investigações de segurança nacional (Seção 232), como automóveis e autopeças;
Acordo prévio para negociação de preferências em investigações de segurança nacional em andamento (Seção 232). O Brasil tem interesses claros em aeronaves e madeira;
Compromisso específico para zerar a tarifa aplicada ao setor de aeronaves, um dos principais produtos da pauta exportadora do Brasil aos EUA (US$ 2,7 bilhões em 2024);
Para aço e alumínio, há o direcionamento, pelo presidente, para avaliar a negociação de cotas pelo Escritório de Comércio dos EUA.
"Do lado de acesso ao mercado do Reino Unido, os EUA priorizaram etanol e carne bovina, ainda que precisem passar pelo Parlamento britânico. No primeiro caso, sabe-se que os EUA têm buscado redução tarifária no mercado brasileiro. Já em carne bovina, Brasil e EUA são grandes exportadores globais, podendo haver uma piora de acesso brasileiro ao mercado do Reino Unido", alertou o documento.
"Há ainda o compromisso de avançar em negociações não tarifárias, incluindo cooperação regulatória, e nas negociações em comércio digital, serviços e compras governamentais. Esses temas são prioritários para o setor empresarial na relação Brasil-EUA e para ampliação do acordo já existente", completou a Câmara.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.