Banimento, desfalques e deportação: Como Trump criou um caos nos esportes

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O endurecimento da política migratória dos EUA deixa atletas, treinadores e times inteiros incertos sobre suas respectivas participações em torneios internacionais e em suspense sobre o destino de suas carreiras.
Nesta semana, o caso do brasileiro Hugo Calderano foi revelador. Como ele fez uma viagem para Cuba em 2023, sua entrada foi dificultada e, por falta de tempo hábil, ele perdeu um torneio em Las Vegas.
A lei que gerou o veto é de 2015 e não é do governo de Donald Trump. Mas, em sua administração, a ordem é para que cada processo de verificação seja endurecido e que nenhuma flexibilidade seja dada a ninguém.
Assim, o brasileiro é apenas um dos muitos atletas que passou a viver essa situação. Na semana passada, foi a seleção de voleibol de Cuba que teve seu visto rejeitado para participar de um torneio em Porto Rico, um território americano. Todas as doze atletas, técnicos e equipe de apoio tiveram seus vistos rejeitados.
O torneio feminino de uma das maiores seleções do esporte mundial valia pontos para a eliminatória para a Liga das Nações. Wilfredo Robinson, técnico do time, emitiu um comunicado no qual admitiu que a exclusão significará que Cuba dificilmente se classificará para o torneio que é um dos pilares do calendário internacional.
Cuba foi colocada por Trump numa lista de 19 países que passaram a ser alvos de banimentos completos ou parciais de vistos. Para o chanceler cubano, Bruno Rodriguez, a medida "é racista e xenófoba".
Oficialmente, o governo americano insiste que todos os atletas de quase 200 países poderão entrar nos EUA para os Jogos Olímpicos de 2028 em Los Angeles e para a Copa do Mundo de 2026. A lei estipula exceções para "qualquer atleta ou membro de um time esportivo e parentes imediatos viajando" para esses dois mega-eventos que ocorrerão nos EUA.
Por enquanto, no futebol, o Irã é a única seleção classificada para 2026 e que está na lista de países com a suspensão de vistos. A Fifa recebeu garantias por parte da Casa Branca que isso não será um problema.
Mas o temor em Havana e de outros governos é que, com muitos dos torneios de qualificação para modalidades olímpicas ocorrendo em cidades americanas nos próximos dois anos, o impacto será profundo.
A nova lei americana ainda significa que pelo menos 130 atletas que são originários dos 19 países banidos estão com suas situações no limbo nos EUA. Mais de cem deles estão nas ligas de beisebol, em sua maioria cubanos e venezuelanos.
Os ataques de Trump contra as universidades americanas também vêm causando apreensão entre os treinadores e dirigentes do esporte universitário nos EUA - e que move bilhões de dólares em transmissões.
Em maio, o governo americano ameaçou impedir que algumas das faculdades concedam vistos para estudantes estrangeiros e suspendeu o processo de entrevistas para todos em seus consulados pelo mundo. Para completar, chineses terão sérios problemas para conseguir suas autorizações para estudar nos EUA.
Mas segundo a NCAA (a Associação Atlética Universitária dos EUA), 25 mil atletas estrangeiros estão distribuídos nas centenas de modalidades e nas três divisões existentes no país.
No campus da Harvard, alvo de ameaças de Trump, o temor é de que times inteiros não conseguirão competir em seus campeonatos que começam em setembro, diante da indefinição sobre quem pode ou não entrar. Dos 919 atletas da universidade em 42 modalidades, 196 deles são estrangeiros.
Na Harvard, dez dos 13 membros do time masculino de squash são estrangeiros. No futebol feminino, as estrangeiras representam mais de 50%.Entre tantos estudantes internacionais que fizeram parte das equipes da prestigiosa universidade está o atual primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, que fez parte da equipe de hóquei da Harvard.
NBA salva sul-sudanês
Um dos casos que ganhou destaque nas últimas semanas foi a ameaça de deportação de um prodígio africano do basquete. O visto de Khaman Maluach, do Sudão do Sul, na Universidade de Duke terminou em abril, horas antes das semifinais do seu time, os Blue Devils. Naquele dia, o Departamento de Estado anunciou que todos os vistos de portadores de passaporte sul-sudanês estavam sendo revogados.
Imediatamente surgiram dúvidas sobre se Maluach estaria apto a ser selecionado para a NBA. Ele tinha chegado aos EUA com um visto F-1, usado para estudantes-atletas internacionais.
Se ele tivesse de ficar mais um ano na universidade, seria deportado. Mas seu destino mudou quando a NBA deu início à documentação para que ele recebesse um visto de atleta profissional e ele iniciará sua carreira em Phoenix.
Prisão e deportação
Nesta semana, outro caso também chamou a atenção dos esportistas estrangeiros nos EUA, ainda que as acusações vão muito além de um ato de cruzar a fronteira ilegalmente. As autoridades de imigração prenderam o boxeador mexicano Julio Cesar Chavez Jr. em Los Angeles e indicaram que ele será deportado.
A sinalização, neste caso, é de que a cooperação entre as forças de ordem não poupará ninguém. Trump vem pressionando o governo mexicano a agir contra os cartéis, como condição para manter um fluxo de comércio.
A operação contra o pugilista ocorreu poucos dias depois de ele ter perdido uma luta contra o americano Jake Paul. Chavez venceu o campeonato WBC dos pesos médios em 2011. Mas sua carreira foi ofuscada por controvérsias, entre elas doping.
Agora, o Departamento de Segurança Interna dos EUA apontou que o motivo pelo qual Chavez foi preso inclui o fato de ele estar no país ilegalmente. Ele ainda teria feito declarações fraudulentas em um pedido de residência permanente para 2024.
Chavez também é alvo de um mandado de prisão mexicano sob alegação de envolvimento com o crime organizado e tráfico de armas de fogo.
Ele é casado com uma cidadã norte-americana e é ainda filho do lutador mexicano campeão mundial Julio Cesar Chavez. Mas a suspeita é de que teria ligações com o Cartel de Sinaloa do México. Trump, no início de seu governo, designou o cartel como uma organização terrorista estrangeira.
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