CBF tem atitude racista ao ordenar retirada de faixa 'fogo nos racistas'
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A CBF ordenou a retirada da faixa "fogo nos racistas" do estádio do Internacional. A censura aconteceu no último sábado, antes da partida contra o Juventude, pela sexta rodada da séria A do Campeonato Brasileiro. Caso a medida não fosse cumprida, o time do Inter poderia ser punido com a perda de mando de campo.
A ação da CBF foi denunciada pelo deputado estadual Matheus Gomes (PSOL-RS). Em suas redes sociais, Matheus lembrou ainda das inúmeras polêmicas e casos de corrupção da CBF, como o escândalo das bets, a crise da arbitragem, casos de assédio sexual, desrespeito aos direitos trabalhistas e falta de apoio ao futebol feminino, por exemplo. A CBF também tem sido acusada de omissão em diversos casos de racismo.
A frase "fogo nos racistas" se popularizou com o rapper Djonga, que durante um show em 2022 colocou um homem em chamas no palco. A performance artística tem relação com a letra da música "Olho de Tigre". A imagem é forte e impacta porque vemos ali a materialização de um imaginário da branquitude que lê "fogo nos racistas" de modo literal.
Nesses momentos precisamos de uma grande paciência histórica, além de sermos didáticos: embora a violência racial nos atinja todos os dias, ainda é preciso dizer que ninguém vai sair por aí colocando gasolina no corpo de ninguém e depois acender um fósforo.
Isto não é uma prática de quem defende direitos pela igualdade racial e social, pois colocar fogo em pessoas em situação de rua e indígenas, como já aconteceu, é uma prática branca, classista e racista.
O enfrentamento ao racismo não passa pelos mesmos métodos colonialistas a que fomos submetidos.
Mesmo tendo criado uma comissão para combater o racismo e a violência dentro do futebol em 2022, a CBF parece não compreender o básico: de que a expressão "fogo nos racistas" é um pedido de basta. É um modo de dizer que já não se aceitam condutas racistas.
"Fogo nos racistas" é um risco no chão dizendo: daqui você não passa. Além disso, é preciso entender expressões como: "Poder para o povo negro", "Pretos no topo", "Nossos passos vêm de longe". Elas, ou a própria frase "fogo nos racistas", servem para dar uma sensação de unidade às lutas contra o racismo.
A CBF fortalece o preconceito ao mandar retirar a faixa, ignorando o trabalho do próprio Internacional na luta contra o racismo.
O estádio não pode ser mais visto como um lugar em que vale tudo, um lugar onde se pode dizer qualquer coisa em nome de um extravasamento da paixão esportiva.
A CBF perde a chance de dizer que não há lugar para racistas no futebol.
Um evento que movimenta milhões de pessoas deveria servir de veículo para uma conscientização em massa, e não para um aceno explícito e vergonhoso à censura.
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