Joildo Santos

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Opinião

Acessibilidade nas periferias: entre o direito e o improviso

A palavra acessibilidade parece bonita nos discursos e nas propagandas oficiais. Mas quando a gente desce do asfalto das avenidas centrais e entra nas vielas da quebrada, ela perde o brilho. A realidade das periferias e favelas, é que o acesso, no sentido mais básico da palavra, ainda é um desafio diário.

Tem viela que não passa cadeira de rodas, escadão onde deveria ter rampa, morro onde o ônibus nem sonha em subir, tem ponto de ônibus sem abrigo, e quando chove (porque chove na favela também), o passageiro se molha, o idoso escorrega e a mãe com criança no colo improvisa com o que dá.

Os relevos das periferias são os primeiros obstáculos, favelas nascem onde a cidade oficial não quer crescer, então ocupamos o que sobra: morro, beira de córrego, fundo de vale. Aí cresce a comunidade, cresce a potência, mas também crescem os problemas, e a acessibilidade, nesse caso, vem sempre por último (quando vem).

Já tivemos avanços, é verdade. Raramente aparecem projetos que tentam adaptar espaços, colocar rampas, melhorar a circulação. Mas ainda é tímido. Muito tímido. A acessibilidade continua sendo privilégio de quem vive nos bairros planos, arborizados e asfaltados.

E quando se fala de acessibilidade, não é só a locomoção de cadeirantes ou pessoas com deficiência, que já é urgente. Estamos falando de mães com carrinhos de bebê enfrentando ladeiras de barro e buracos. De idosos que precisam ir ao posto de saúde e desistem porque a caminhada até lá é uma via-crúcis. De jovens que perdem oportunidades porque não conseguem chegar a tempo em uma entrevista no centro. É disso que se trata.

A falta de acesso vira um bloqueio à saúde, à educação, à cultura e a todos os serviços públicos que, em tese, são garantidos pela Constituição. Mas na prática, são negados todos os dias pela geografia e pelo abandono.

Precisamos parar de tratar acessibilidade como luxo ou favor, e tratar como direito que é. E mais do que isso: é base para a dignidade. Enquanto não chegar acessibilidade para todos, não teremos uma cidade justa. Porque onde não se chega, não se vive plenamente.

A favela precisa ser incluída. E inclusão de verdade começa pelo caminho a percorrer com a participação de todos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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