Joildo Santos

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Opinião

Mídia hiperlocal e a renda que fica em casa

Tem barulho que a gente só escuta de perto. Não é o ruído da cidade grande, aquele zumbido constante que quase nos ensurdece. Falo daquele som que tem CEP, que tem rosto, que conta a história do nosso lugar. É a rádio comunitária tocando o sucesso do momento misturado com o aviso do posto de saúde. É o jornal do bairro que chega de mão em mão, o blog que denuncia o buraco na rua, o grupo de zap onde a vizinhança se organiza. É a voz hiperlocal, aquela que fala a nossa língua, entende o nosso corre.

Vivemos num mundo conectado, com notícias que rodam o planeta em segundos. Mas, na real, o que pega mesmo, o que muda o nosso dia a dia, muitas vezes tá ali, na esquina. A mídia hiperlocal, seja o carro de som anunciando a promoção do mercadinho, o influenciador da quebrada que dá a dica do rolê, ou o cartaz colado no poste, tem uma força danada. Ela não só informa, ela conecta, cria identidade, fortalece os laços que fazem da comunidade um lar.

Muita gente ainda subestima o impacto dos veículos locais, mas é por eles que a favela se vê, se reconhece e se movimenta. Eles falam a língua do povo, entendem os códigos, respeitam os silêncios e ampliam as vozes. É a tia do brechó anunciando no carro de som, o jovem na laje criando conteúdo que engaja mais que muita campanha de agência, o jornal comunitário cobrindo o que a mídia tradicional ignora, que por vezes preferem as pautas negativas e ligadas a ocorrências policiais. Isso é mídia viva. É território falando com território.

E aí entra uma ideia que tem conquistado força e gerando impacto: o OOH Social. A sigla parece coisa de outro mundo, Out-Of-Home, mídia fora de casa. Na prática, são placas impressas em PVC ou outro material leve. Mas a mágica tá no "Social". Imagina só: aquele muro cinza, aquela fachada sem vida, de repente viram espaço pra anúncio. Normal, né? Mas no OOH Social, a história é outra. Quem cede o espaço, o morador, recebe uma grana por isso. Aquele dinheiro que antes ia embora pra grandes empresas de mídia agora circula ali mesmo, dentro da comunidade.

É uma rede que se forma, percebe? O morador ganha, mas não só ele. Tem a galera que imprime o material, quem transporta, quem instala o cartaz ou a lona, quem faz o checking pra ver se tá tudo certo, e depois quem desmonta pra abrir espaço pra próxima campanha. É renda girando, oportunidade nascendo onde antes só tinha parede. É a economia local respirando mais forte, mostrando que desenvolvimento pode, sim, começar de dentro pra fora.

E a coisa não para por aí. O digital chegou junto, com o OOH Social Digital (ou DOOH Social). São telas de LED ou TVs instaladas em pontos estratégicos, levando informação e publicidade de um jeito moderno, dinâmico. O impacto visual é grande, chama atenção, mas o princípio é o mesmo: gerar valor ali onde a vida acontece. É a tecnologia servindo não só pra conectar com o mundo lá fora, mas pra fortalecer as raízes aqui dentro.

Claro, não é romantizar. Sabemos dos desafios. Tudo isso exige organização, curadoria, cuidado com a estética e com a cultura local. Não é só colar uma lona ou ligar uma TV. É preciso cuidar da mensagem, da imagem, do propósito. Mas quando é feito com verdade, com quem é da base, o resultado vem. Não só em vendas, mas em engajamento, pertencimento e desenvolvimento.

A mídia hiperlocal, turbinada por modelos integradores, deixa de ser só canal de informação pra virar também motor de desenvolvimento econômico, ferramenta de empoderamento. É a comunidade falando por si e, mais do que isso, gerando valor a partir do seu próprio espaço, da sua própria voz. É a prova de que, quando a gente olha pra dentro, encontra soluções que fazem sentido pro nosso povo e fortalecem quem a gente é.

A favela nunca foi só público-alvo, ela é produtora, curadora e protagonista da sua própria narrativa. E com modelos inovadores, tem a oportunidade de aproveitar seu espaço e gerar renda. É a nossa voz que não só ecoa, mas transforma. E o melhor: com o dinheiro ficando em casa.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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