Joildo Santos

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Opinião

Clima e Quebrada: a favela sente primeiro

Quando discutimos a crise climática, os mais vulneráveis sentem primeiro. E sentem mais forte. Enquanto nos bairros ricos o calor é abafado por árvores e parques, na favela a brisa esbarra no concreto quente, no asfalto sem sombra, nas casas coladas umas nas outras. Quando tá calor, aqui vira estufa. Quando esfria, vira geladeira. Não tem meio-termo: é no extremo que a gente vive.

As estatísticas mostram o que já percebemos diariamente: a diferença de temperatura entre bairros vizinhos pode chegar a 8 graus. Oito graus! Ou seja, enquanto alguém em Moema liga o ar-condicionado, em Paraisópolis tá todo mundo suando, com a laje fervendo. Quando a Vila Mariana coloca um moletom leve, em Heliópolis já tem gente dormindo de touca e três cobertores.

Esse descompasso não é natural, é social. A gente mora nas áreas mais desmatadas, com menos áreas verdes, menos infraestrutura, menos investimento. Mas a quebrada resiste - e planta.

Nos últimos anos, temos visto uma revolução silenciosa (e verde) nas lajes e vielas: são hortas urbanas, agrofavelas, telhados vivos. Em Paraisópolis e Heliópolis, o G10 Favelas constrói hortas comunitárias que alimentam, geram renda e refrescam. Em Betim-MG, Sol Nascente-DF, em Casa Amarela-PE, e em milhares de outras periferias, é o mesmo movimento: do concreto brota solução.

Essas iniciativas são muito mais do que simbólicas. Elas reduzem a temperatura local, melhoram a qualidade do ar, fortalecem a segurança alimentar e constroem consciência ecológica desde cedo. Sustentabilidade na quebrada não é modinha: é sobrevivência.

Precisamos que mais marcas, empresas, governos e instituições entendam isso. Que invistam em soluções pensadas a partir da base. Sustentabilidade não pode ser luxo de condomínio. Precisa ser estratégia de favela.

A pergunta não é se faremos nossa parte. Já estamos fazendo isso. A questão é: quem irá se juntar a nós?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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