Joildo Santos

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Opinião

Mulheres na quebrada: Liderança, empreendedorismo e transformação social

Tem uma revolução acontecendo nas vielas, nos becos e nos barracos das nossas favelas. Ela não faz barulho de protesto na rua, nem sempre aparece na TV, mas está costurada no dia a dia de quem acorda cedo para fazer a diferença. É a revolução silenciosa das mulheres da quebrada.

São elas que estão na frente de projetos que transformam a vida de muita gente, seja gerando renda, qualificando vizinhas ou criando negócios que respeitam o território e suas histórias. Mulheres que, além de cuidar da família e enfrentar a dureza do dia a dia, decidem empreender e liderar.

Exemplos não faltam. É o caso das costureiras e artesãs que encontram na moda sustentável não só uma forma de ganhar dinheiro, mas também de contar histórias da favela com agulha e linha. Iniciativas como o Costurando Sonhos Brasil mostram como a criatividade local pode virar produto, gerar renda e ainda fortalecer a autoestima de quem faz. Cada peça não carrega só tecido: carrega também afeto, identidade e resistência, atém de contribuir com a natureza priorizando o upcycling.

E não para por aí. Tem também quem transforma a cozinha em trincheira de oportunidades, como o GastroFavela Brasil, que capacita e incentiva mulheres a empreender na gastronomia local, mantendo vivas receitas que contam a história da comunidade. Ou quem olha para a terra e cultiva muito mais que alimento, como faz o AgroFavela Refazenda, criando espaços de cultivo comunitário que são, ao mesmo tempo, hortas, salas de aula e redes de apoio.

Na comunicação e na cultura, a força feminina também está abrindo novos caminhos. A jornalista Gisele Alexandre, por exemplo, criou a Pauta Periférica, plataforma que amplia as vozes da favela e conecta histórias, dados e projetos que nascem dentro da quebrada. É jornalismo feito por quem vive a realidade e entende o impacto de contar essas histórias do jeito certo. Além disso, a Pauta Periférica vai além da notícia: também produz conteúdo cultural e ações que fortalecem a identidade periférica.

No Rio de Janeiro, a ativista Cris dos Prazeres segue o mesmo caminho de transformação com o Instituto Evolux. O projeto oferece cursos, oficinas e oportunidades para mulheres e jovens da comunidade, mostrando que educação e cultura podem ser ferramentas reais de mudança. Mais do que capacitar, o Evolux inspira e fortalece quem muitas vezes foi desacreditado pelo sistema.

O que une todas essas histórias é algo maior: o empoderamento feminino que nasce do pertencimento, da coragem e da necessidade de transformar o presente para garantir um futuro melhor. É quando uma mulher da favela descobre que pode empreender que ela também descobre que pode liderar, influenciar e mudar vidas - a começar pela dela.

Moda sustentável, jornalismo comunitário, gastronomia de raiz, agricultura urbana, formação cultural... mais do que tendência, são caminhos que mostram que o futuro da favela passa pelas mãos dessas mulheres. Elas não esperam convite para entrar no mercado: elas criam o próprio mercado, geram renda local, mantêm a cultura viva e ainda inspiram outras mulheres a fazerem o mesmo.

É essa favela que a gente acredita, que a gente constrói todos os dias: uma favela que cria.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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