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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Prevent Senior, Paulo Guedes e Senado Federal

Prevent Senior, a porta do privilégio econômico - Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Prevent Senior, a porta do privilégio econômico Imagem: Roberto Casimiro/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

04/10/2021 10h01Atualizada em 04/10/2021 10h09

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A Prevent Senior não era controlada como devia. É a desarticulação da relação Estado e mercado, que, em geral, favorece sempre os privilegiados do mercado.

Paulo Guedes que apregoava o fim dos benefícios fiscais posando de "justiceiro" em favor do Brasil, mantém uma conta em um paraíso fiscal para não pagar imposto no Brasil, no mínimo um grave conflito ético. Privilégio de uma pessoa rica.

O Senado Federal, onde aparecem duas personalidades recentes que estavam fazendo discursos a "favor do bem e da igualdade", Rodrigo Pacheco, suposto candidato à presidência da República e Davi Alcolumbre, ex-presidente do Senado Federal, e atual presidente da poderosa Comissão de Constituição e Justiça, seguram o projeto que tenta diminuir o absurdo dos supersalários.

"Povo marcado, povo feliz" diz a letra de Zé Ramalho em Admirável Gado Novo:

"É duro tanto ter que caminhar, e dar muito mais do que receber".

A Prevent Senior escancara a promiscuidade entre iniciativa privada e poder público, onde a iniciativa privada quer incentivos, crédito, mas não deseja controle, almeja fazer tudo como quer, para ter o privilégio do lucro fácil, sem satisfação à população. Mostra a desarticulação Estado e mercado no Brasil.

Não existe país com desenvolvimento sem tal articulação. É uma bobagem fenomenal ficar discutindo Estado contra mercado ou vice-versa, como fazem os integrantes do partido Novo. O que é preciso para o progresso é uma articulação bem feita, respeitando as peculiaridades do país. A China não aplica o "socialismo na veia", para desencanto dos próceres dos partidos de esquerda, ela comete uma articulação eficiente para ela, onde as estatais dão cobertura para as empresas privadas, e o Estado se sobrepõe ao mercado, mas atuam juntos. Nos EUA é o inverso, o país faz uma articulação clara, com o FED, o banco Centra dos EUA, injetando dinheiro na iniciativa privada sempre que precisa e o governo subsidiando o que for necessário. Lá o mercado se sobrepõe ao Estado. O Brasil não é, nunca foi, nem tem vocação para ser um país comunista. Aqui o comunismo, que nunca existiu, é utilizado como "espantalho" para assustar os pássaros da classe média conservadora, e manter privilégios. O Brasil é o país dos privilégios. Existem mais de 500 tipos de "Auxílios" para servidores. Boa parte no Judiciário, com coisas bizarras como auxílio-banda larga, auxílio-livro, para servidores que ganham o teto de 39,2 mil reais, nada mau, e se julgam com esse direito. Judiciário se julga, em julgamento em próprio benefício, com direito a ter salários que chegam a 100 mil reais.

Para manter os privilégios, os donos do poder utilizam qualquer tipo de interpretação, fazem jogo de palavras, entre verba indenizatória e remuneratória, usam qualquer artifício pseudointelectual para assegurar privilégios.

Paulo Guedes, que a princípio parecia um camelô fanfarrão, que anuncia qualquer coisa sem compromisso com a entrega, mostra agora que precisa de certa compaixão nossa, e de um tratamento psicológico. É uma nota de três, rasgada. Não tem autoridade moral para ser ministro da Economia e não percebe ser usado por Bolsonaro exatamente pelos seus defeitos, pela sua ganância por estar no poder e "fazer tudo o que seu mestre mandar", mesmo que contrarie o que diz ter aprendido em Chicago. É liberal fake.

Todos esses episódios não são manifestações isoladas. São partes componentes de uma mesma ópera: La Traviata dos Privilégios.

O Brasil para ter jeito precisa mudar, de fato, de atitude.

Isso, infelizmente, não parece estar em tela.

As forças de oposição brigam entre si, parte da esquerda defende ainda a Venezuela, Cuba, como antigamente o PCdoB defendia o involuído país rural: a Albânia, como exemplo. Tristes trópicos.

A esquerda também defende o privilégio dos supersalários para servidores. Todo mundo acaba tendo um "privilégio para chamar de seu".

Segue a procissão da desigualdade, com o cantochão da hipocrisia como melodia.