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José Luiz Portella

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Entrevista com a Chapa Somos Todos USP

Campus da Cidade Universitária no Butantã. Torre da Praça do Relógio. USP, Universidade de São Paulo. - Marcos Santos/USP Imagens
Campus da Cidade Universitária no Butantã. Torre da Praça do Relógio. USP, Universidade de São Paulo. Imagem: Marcos Santos/USP Imagens

Colunista do UOL

20/10/2021 04h00

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Ouvi a segunda chapa à Reitoria da USP, Somos Todos USP. É uma eleição incomum, só duas chapas se apresentaram. Já houve sete em outra eleição e a exigência, segundo professores, é de uma lista tríplice, problema ainda a ser resolvido. Falei com a professora Clotilde Perez, professora Titular de Semiótica e Publicidade da ECA, responsável pela demanda de imprensa da chapa, ela consultou o candidato a Reitor Antônio Carlos Hernandes e a candidata a Vice-Reitora Maria Aparecida Machado, e enviou as seguintes respostas: (as perguntas foram as mesmas feitas à outra chapa)

1. QUAIS SÃO OS TRÊS PONTOS MAIS RELEVANTES QUE A CHAPA SOMOS TODOS USP OFERECE PARA A COMUNIDADE DA USP?

Os três pontos mais relevantes da nossa chapa são o Diálogo, a Inclusão para a Transformação e a Excelência, eixos transversais do nosso programa de gestão. Diálogo porque acreditamos que esse é o melhor caminho para uma construção coletiva de propostas e ações para a USP, com respeito às diferenças e às liberdades de expressão. Inclusão é o caminho para transformar a USP numa universidade cada vez mais plural e alinhada às reais demandas das comunidades interna e externa, como já está acontecendo. Uma das nossas missões agora é consolidar a transformação que a inclusão proporcionou à sociedade. Excelência porque é o DNA da USP, construído ao longo dos seus quase 90 anos, porque acreditamos na educação e na ciência como valores fundamentais para o desenvolvimento humano e sustentável.
2. COM A PANDEMIA, QUAL A ECONOMIA QUE A USP FEZ?

Durante a pandemia houve manutenção do total de despesas, revelando alternância nas fontes de despesas de pessoal e de custeio que se compensaram, uma vez que todos os benefícios dos servidores, sem exceção, foram mantidos no sentido de apoiar as famílias da Universidade durante o distanciamento social. Além disso, foram intensificadas as despesas com alunos em condição de vulnerabilidade social para garantir acesso ao ensino remoto, e mantidos os demais auxílios, reforçando a política de permanência estudantil promovida pela USP. Os investimentos em infraestrutura e em contratação de pessoal no Hospital Universitário foram fundamentais para a participação da USP no atendimento ao público durante a grave crise sanitária. No ano de 2021, com a progressiva retomada das atividades presenciais, a USP vem utilizando boa parte desses recursos excedentes, com investimentos de readequação e requalificação de espaços de ensino, pesquisa e extensão, visando o retorno seguro das atividades presenciais.


3. EM QUE PROJETOS VOCÊS PENSAM APLICAR ESSA ECONOMIA REALIZADA?

Os investimentos da Universidade de São Paulo são avaliados numa perspectiva sistêmica por meio de um planejamento que considera um horizonte de 4 anos, onde são contrastadas perspectivas de evolução da cota de arrecadação de ICMS do Estado de São Paulo contra as necessidades de crescimento das despesas com pessoal, custeio e investimentos. Para tanto, são observados os limites impostos pelo orçamento concedido pelo Governo do Estado de São Paulo e os parâmetros de sustentabilidade financeira desenvolvidos pela própria USP.
No próximo quadriênio estão previstos investimentos aportados de forma escalonada em: reajuste salarial, progressão de carreira de pessoal docente e técnicos administrativos, atualização de benefícios suplementares, contratação de pessoal docente e técnicos, acréscimos na promoção da permanência estudantil e inclusão social e aporte de recursos estratégicos em infraestrutura e equipamentos e projetos específicos direcionados para a manutenção da excelência internacional da USP em ensino, pesquisa e extensão.


4. QUAL É O PAPEL QUE A USP DEVERIA EXERCER PARA A SOCIEDADE E NÃO ESTÁ FAZENDO POR CONTA DAS CIRCUNSTÂNCIAS?

Como todos os segmentos da sociedade, em especial o das universidades públicas, temos ainda muitos desafios. O principal deles é não só levar à sociedade o resultado do nosso trabalho em ensino, pesquisa e extensão, mas principalmente trazer a sociedade para dentro dos nossos Campi para vivenciar estas experiências. Aprimorar mecanismos que viabilizem essa maior aproximação é um dos temas que demandará nosso empenho e esforço. Apesar da grave crise sanitária e da crise no financiamento para pesquisa, a USP se fez presente por meio de atuações diretas nas diferentes áreas do conhecimento, seja desenvolvendo respiradores de baixo custo, tecnologias de apoio aos hospitais, orientação à sociedade por meio de informação qualificada.

5. O QUE A CHAPA OFERECE DIFERENTE DA OUTRA CHAPA? ONDE AS CHAPAS SE DISTINGUEM?
O que nos distingue é a experiência e as realizações comprovadas que sustentam nossos princípios e nossas propostas. Por exemplo, quando falamos da criação do Conselho de Diversidade e Inclusão, é porque essa estrutura é muito mais ágil, transversal, flexível e eficiente. Um Conselho diverso, com participação da sociedade civil, ouvindo e integrando vários projetos e iniciativas já existentes permitirá ampla participação provendo articulação de baixo para cima. A inclusão que vem ocorrendo na USP, teve início concretamente a partir de 2017, e chegamos hoje a mais de 50% de alunos ingressantes vindos da escola pública porque houve envolvimento, participação da comunidade, planejamento competente e decisão dos órgãos colegiados.
6. QUAIS SÃO OS 3 PONTOS MAIS FORTES E OS TRÊS MAIS FRACOS DA USP HOJE?

Um dos pontos fortes é, certamente, a nossa excelência acadêmica, comprovada pela qualidade da formação que oferecemos aos nossos alunos, com reflexos na empregabilidade, tanto para o mundo das empresas e demais organizações governamentais, quanto para atuarem como professores e pesquisadores em outras instituições. Também temos o reconhecimento internacional na Ibero América e no mundo. Outro ponto forte é o sentido público em tudo que fazemos, isso nos singulariza e nos fortalece.

Sobre os nossos desafios, precisamos melhorar nossas relações com a sociedade civil em toda a sua diversidade. A sociedade precisa estar mais dentro e um caminho para isso são as políticas de inclusão social; da mesma forma que a Universidade precisa estar mais fora, ampliando sua presença no cotidiano das pessoas, criando um imenso processo de permeabilidade e transbordamento das fronteiras.

7. QUAIS SÃO AS DUAS MAIORES AMEAÇAS PARA USP E AS DUAS MAIORES OPORTUNIDADES POR CONTA DO MOMENTO EM QUE VIVEMOS?

As oportunidades passam pela revalorização das instituições de pesquisa vivenciada em decorrência das respostas dadas durante a pandemia. Pesquisas, remédios, tratamentos, vacinas e informações qualificadas, todas contribuições muito concretas vindas da USP e de outras instituições de pesquisa. Outra oportunidade que o contexto proporciona é a abertura para maior participação da sociedade civil.

O maior risco às instituições de ensino superior públicas é a perda da autonomia acadêmica, administrativa e financeira, por isso reafirmamos o compromisso de defesa contínua e incondicional da autonomia universitária. Outra ameaça é a dificuldade de entendimento por segmentos específicos da sociedade sobre o que significa uma Universidade de Pesquisa como é o caso da USP. Muitos ataques, são na verdade, falta de informação e de entendimento sobre as dinâmicas e características de uma Universidade.


8- PARA CONHECIMENTO DA SOCIEDADE: O QUE É E COMO ESTÁ A POLÍTICA DE PERMANÊNCIA?

A USP concede, por meio do Programa de Apoio à Permanência e Formação estudantil (PAPFE), mais de 25.000 benefícios, dentre os quais estão auxílio financeiro para moradia, alimentação totalmente subsidiada nos restaurantes universitários, vagas em moradias estudantis, auxílio financeiro para aquisição de livros e materiais didáticos, além de vagas nas creches e transporte nos campi da USP. É um programa robusto, amadurecido ao longo dos anos, sobretudo aos estudantes de graduação.

No entanto, acompanhando o processo bem-sucedido de inclusão na graduação de estudantes de escolas públicas, pretos, pardos e indígenas, chegamos ao ponto no qual iremos dar um salto nas políticas de permanência na USP, reestruturando-as conceitualmente e, por consequência, aprimorando as ações concretas. Essa reconceituação passará pela criação da Superintendência da Vida Estudantil (SuVE).

A nova Superintendência deverá possibilitar aos estudantes que desenvolvam na USP um amplo repertório da vida estudantil, de natureza sócio-artístico-cultural, que os prepare para se tornarem agentes ativos frente às questões humanas, tecnológicas, socioeconômicas e ambientais. A permanência na universidade necessita dos apoios e benefícios financeiros, mas pode e deve ser mais densa, profunda e abrangente, incluindo os estudantes da pós-graduação.

9- O QUE FALTA PARA A USP ESTAR ENTRE AS 50 MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO NOS RANKINGS MAIS PROEMINENTES?

Além do investimento nos projetos pedagógicos dos cursos, colocando-os como referência de qualidade no país e no mundo, precisamos incentivar a formação de redes internacionais de pesquisa e retomar o intercâmbio de estudantes docentes e pesquisadores que foi muito prejudicado durante a pandemia. Nossa política de internacionalização deve estar aberta às melhores parceiras do planeta, mas temos um papel importante a cumprir no fortalecimento das redes de cooperação Sul-Sul e em particular no foco de cooperação com os países da América Latina, da África e dos países de língua portuguesa. É possível e necessário fazer isso sem renunciar à cooperação com as melhores universidades do planeta. Afinal, as universidades de classe mundial, e essa é uma vocação da USP, sempre partiram de um profundo compromisso com suas próprias comunidades.


10- UMA UNIVERSIDADE COM O NÚMERO DE ALUNOS DA USP CONSEGUE SER UMA UNIVERSIDADE DE EXCELÊNCIA?

Sim, ainda que não seja tarefa simples. Além de condições orçamentárias, é preciso de corpo docente e de pesquisa de excelência, servidores preparados e engajados e alunos que vivenciem a universidade em toda a sua potência, nas aulas, nos eventos acadêmicos, na pesquisa, na atuação junto aos projetos de cultura e extensão.


11- QUAIS OS PROJETOS QUE A CHAPA TEM PARA O USP/MULHERES?

A presença da mulher, voz e equidade são pontos centrais para nós. O Escritório USP Mulheres, criado em 2016, tem a incumbência de propor e implementar iniciativas e projetos voltados à igualdade de gênero no âmbito da Universidade de São Paulo. Avanços têm ocorrido, mas estamos certos de que precisamos dar saltos significativos como resultado de um processo de diálogo permanente com a comunidade interna, assim como com renomados órgãos internacionais.

12- QUAL É A EVASÃO MÉDIA HOJE NA USP? QUAIS AS UNIDADES QUE MAIS SOFREM COM A EVASÃO?

Podemos afirmar categoricamente que a evasão escolar é um fenômeno complexo e dependente de múltiplos fatores. Sempre que simplificamos a análise, reduzimos o processo de modo equivocado, o que nos distancia da capacidade de atuar efetivamente sobre ela. Para compreender e interpretar corretamente a evasão é preciso considerar as diferentes carreiras, a concorrência no ingresso, as diferenças no sistema de escolha do curso na Fuvest e no SiSU, os parâmetros em universidades congêneres do país e do exterior.

13- QUAIS SÃO AS CINCO METAS QUE A CHAPA CONSIDERA AS MAIS SIGNIFICATIVAS?

1. A USP não pode ter nenhuma outra meta mais urgente e prioritária que não seja contribuir para a redução das desigualdades na sociedade brasileira. O Brasil é um país com muitos recursos, mas muito desigual. E a pandemia ampliou esta desigualdade.
2. A inclusão e a promoção da diversidade estão intimamente ligadas ao tema de redução das desigualdades. Não será possível reduzir desigualdade sem promover diversidade. A trajetória da vida acadêmica dos membros desta chapa é marcada pela dedicação aos temas da inclusão e da promoção da diversidade.
3. A valorização dos profissionais ligados à Universidade, tanto dos docentes quando servidores é também uma meta importante para a chapa. O principal ativo da USP é a qualidade dos seus profissionais. A retomada das contratações e a melhorias das condições salariais fazem parte deste esforço de valorização. Adicionalmente é preciso que esta valorização seja feita por meio de incentivos à pesquisa, ao ensino e à extensão universitária.
4. A formulação e condução de políticas públicas no Brasil é um campo que a USP pode ampliar a sua contribuição para a sociedade brasileira. Tem havido muitos recursos da USP para apoiar políticas públicas e isto será ainda mais desenvolvido durante a nossa gestão.
5. A inovação é outra dimensão prioritária para a nossa chapa. As parcerias tanto no plano nacional quanto internacional são fundamentais para ampliar, de forma significativa, o papel da USP como elemento indutor da inovação no país.


14- QUAL É UMA UNIVERSIDADE NO MUNDO QUE MUTATIS MUTANDIS A USP PODE UTILIZAR COMO REFERÊNCIA?

A USP é uma universidade de pesquisa, mantida por recursos públicos, com quase 100 mil alunos nos cursos de graduação e pós-graduação, o que a torna bastante singular.
No entanto, todas as universidades de excelência podem ser utilizadas como referências.

15- QUAL A PROPOSTA PARA A CARREIRA DOS SERVIDORES?

A proposta para os servidores é implementar o processo de avaliação e de progressão horizontal e vertical na carreira, de maneira a valorizar as pessoas que se dedicam a fazer da USP uma universidade de excelência.


16- HAVERÁ CONCURSO PARA SUPRIR VAGAS DE PROFESSORES? QUANDO? QUAL É O DEFICIT HOJE NO SOMATÓRIO DE TODAS AS UNIDADES?

Sim. Essa será uma medida implementada já em 2022.


17- A USP PODE SONHAR UM DIA EM TER UM PRÊMIO NOBEL OU ISSO ESTÁ MUITO DISTANTE?

Claro! Temos todas as condições para isso. Temos pesquisadores que são referência internacional nas diferentes áreas do conhecimento, com pesquisas reconhecidas pelos seus pares e pelas principais instituições de pesquisa do mundo.


18- QUAL O MAIOR SONHO QUE A CHAPA SOMOS TODOS USP PRETENDE REALIZAR PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA?

Nosso sonho é que a USP seja protagonista das conquistas em direção a uma vida melhor, com sentido e possibilidades para todos, seus alunos, professores e servidores, mas também como retribuição cívica, democrática e humana para toda a sociedade.