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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Aumento de Bolsonaro, e mercado estupefato: por que entrei nessa?

Jair Bolsonaro, em evento no Palácio do Planalto, em 10 de junho de 2021 - Adriano Machado/Reuters
Jair Bolsonaro, em evento no Palácio do Planalto, em 10 de junho de 2021 Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

16/11/2021 19h27Atualizada em 16/11/2021 21h30

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Ao anunciar aumento para funcionários públicos, Bolsonaro não fez nada diferente do esperado, da sua índole, da sua carreira. O mercado pensava que o furo no teto, a sangria nas contas se limitariam ao que já tinham visto. Não é verdade. Tem mais. Estamos em plena vigência da dominância eleitoral, não da fiscal.

E Bolsonaro nunca enganou que era assim como é.

Então, por que o mercado acreditou nesse governo?

1- Porque estava apavorado com o PT.

A quem já tinha ofertado apoio lá trás, e recebido muito dinheiro via TJLP, incentivos, estímulos, desonerações. O PT não taxou dividendos nem Juros Sobre o Capital Próprio.

E o governo Lula, que de fato produziu uma diminuição na desigualdade de renda, também foi um dos mais concentradores de renda para 0,5% dos brasileiros mais ricos. É, foi assim, aumentou a renda da classe C e D, e também da triple A, classe AAA+.

Deixou que iates e aviões não pagassem imposto, enquanto carros populares, sim. O mundo é mais complexo do que se pensa, e nada é unilateral, linear, contínuo e permanente. De repente, com as artes da Dilma, em parte coadjuvadas por Joaquim Levy, que fez o que o mercado queria, cortou, cortou, como Dilma disse que não faria na campanha, mas fez, e gerou mais recessão. Aí o mercado tomou coragem e desfez o casamento. E como boa parte da classe média, cheio do PT com as vicissitudes e escorregões, votou em Bolsonaro. Para mudar, segundo eles.

Por mais incrível que possa parecer. Com todos os vídeos com as declarações anteriores de Bolsonaro e seu comportamento por 27 anos como deputado. O medo do PT foi o primeiro motivo.

2- Porque todos gostam de crer naquilo que desejam acreditar.

E o mercado é campeão nisso. Como Bolsonaro não reunia condições intelectuais, nem experiência de gestão; o mercado arrumou uma forma de ver o cenário que queria: Paulo Guedes. Ungido à categoria divina. Um gênio da raça, um liberal que havia sido "injustamente" afastado do debate. "Eu votei no Guedes", virou a máxima e a desculpa da Faria Lima. Para não dizer: apertei Bolsonaro na urna. Uma forma de mexer no esterco sem sujar as mãos. Guedes funcionou como uma luva dessas com que as pessoas usam para juntar as necessidades caninas de seus pets.

3- Porque ao fim e ao cabo, o mercado é bastante corporativo e age em manada e uníssono quando se trata de defender seus interesses financeiros e conceituais.

É fiel às crenças no modelo econômico. Aquilo que traz riqueza, está acima do coletivo. E o mercado precisa ter um cão de guarda no Banco Central, e outro no ministério da Economia ou Fazenda. É um interesse de classe. Aí a independência do BC não funciona. Independe de Brasília, qu teve voto, dependente da Faria Lima, que não teve voto.

O medo do PT continua, mas já tem "mercadista" jogando laço em direção ao alazão petista. Os viúvos que abandonaram Dilma e Lula, quando este estava em Curitiba, vão voltar devagarinho e achar que "bons tempos eram aqueles da TJLP e das desonerações"". Those were the days.

Guedes se foi com o vento. Vem um Guedes novo por aí, que o mercado tentará impor a Lula. Que pode aceitar, assim como indicou Trabuco para Dilma e abençoou Levy.

O interesse da corporação não se esvairá. O mercado é player.

Antes, Bolsonaro vai criar um problema orçamentário e fiscal que não será pequeno. e vai se estender até 2023.

Mas, afinal, quem compõe sempre com o poder, o Centrão ou o Mercado?

O Mercado é um Centrão que também aprecia dinheiro.

A realidade é uma dura companheira.

A verdade é uma visitante incômoda. E uma testemunha desagradável.

Bolsonaro vai dar aumento aos funcionários públicos. Quem foi que pariu Mateus?