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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula está cometendo o erro do já ganhou

17 dez. 2021 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ajeita a gravata durante entrevista à Reuters, em São Paulo - Amanda Perobelli/Reuters
17 dez. 2021 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ajeita a gravata durante entrevista à Reuters, em São Paulo Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

Colunista do UOL

02/01/2022 12h22

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Lula precisa descer do pódio e tirar o salto alto.

Todas as ações de Lula demonstram que ele está embebido do "já ganhou".

Lula é um pragmático, no sentido de agir pensando só no objetivo principal, indo direto ao que deseja de forma prática, sem primar por valores.

Isso pode ser o melhor caminho para ele ganhar, mas não é o melhor caminho para o Brasil.

Em 2002, com a aversão e pavor do mercado e empresários, o que ele construiu: a Carta aos Brasileiros com Palocci, e colocou como vice um empresário, para ganhar. Ele sabia que necessitava fazer algum acordo com a elite econômica para ganhar.

Agora, convida Alckmin para vice. Diferente.

Não é para ganhar, embora Alckmin traga alguns votos sem dúvida, Lula já percebeu e comenta com pessoas próximas, que basta jogar parado, impedir a terceira via, que já ganhou. O seu maior cabo eleitoral é Bolsonaro. Lula não precisa se mexer.

Ele convidou Alckmin por sugestão de Haddad. Ou seja, o convite é para Haddad ganhar a eleição, menos para ele ganhar. Lula é esperto, mas os outros não são bobos.

Ele vai ao encontro dos catadores de papel, perfazendo um símbolo, acompanhando de oportunistas de plantão, que se agregam a quem está indo para o Poder, e diz que Haddad precisa perceber que vai vencer a eleição para governador. Claro, na opinião dele, porque está tirando o maior concorrente do caminho. Pode se machucar, como diria Aldir Blanc. O "já ganhou" dança na corda bamba de sombrinha.

Ele está utilizando o desejo de Alckmin de tratar de problemas nacionais, depois de cuidar dos estaduais por quatro vezes, para encantá-lo. Para Haddad.

Lula não acha que precisa de Alckmin para ganhar. Bolsonaro, o imenso apoio no Nordeste de 63% (Ipec) e a ausência de uma terceira via com substância programática e eleitoral, o colocam no conforto.

Isso é um risco bem grave.

Como Lula aprecia as metáforas e comparações futebolísticas, ele está agindo como Flamengo, São Paulo e Grêmio.

O Flamengo, no início do ano, venceu o o Estadual, a Supercopa, jogava avassaladoramente, pensou que iria ganhar tudo no ano. Deu-se bem mal, unindo a prepotência da diretoria com a arrogância de Renato.

O São Paulo foi o maior time do Brasil, tricampeão, campeão do Mundo. Melhor Refis. Pensou que que isso ocorreu porque era o São Paulo, e não pelo trabalho realizado. Lutou em 2021 para não cair.

O Grêmio, com a arrogância de Renato e a prepotência de Bolzan, caiu pela terceira vez.

Arrogância e percepção de ser um demiurgo não produzirão bons resultados a Lula.

Ele não apresenta um programa de governo, um Plano de Desenvolvimento, porque não quer perder votos discutindo coisas polêmicas. Falta coragem, sobra pragmatismo.

Isso não é suposição, é informação baseada em três fontes muito próximas a Lula. Este vai compor em parte com o mercado com o seguinte pragmatismo, nem tanto quanto o mercado quer e já usufruiu nos anos Palocci, nem tão pouco como seus adeptos de esquerda gostariam. Vai enrolar os dois. É informação.

Lula aprendeu com a adversidade da vida, onde conviveu com a escassez e a pobreza, a "se virar" na base do jeitinho. Bem Brasil. Só que leva essa forma de ser a um paroxismo notável.

Ele só falou bem do governo de Cuba, da Nicarágua, por ter convicção de que vencerá. Se colocasse a eleição em risco, não faria isso.

Ele trata a população com menoscabo intelectual, quando diz que ainda não decidiu ser candidato, que o PT tem que escolhê-lo, e que em 2021 ele não cuidaria de campanha, só de covid.

Cuidou só de campanha, pelo covid, creio, ato feito foi vacinar-se.

Lula fez a maior distribuição de renda no Brasil entre classe média alta e classe pobre, é realidade, assim como realizou a maior concentração de renda nas mãos do 0,5% mais rico. Isso ele não fala, e seus adversários não aludem.

Lula precisa apresentar um projeto de Nação, com coragem para tratar dos conflitos e da ambiguidades, que ele manobra com destreza para não perder votos. E, não nos classificar como ingênuos.

Se descer do salto, talvez consiga. Se não crer na falácia, que pode ser maior do que Getúlio Vargas. No momento, parece estar acreditando.

" As coisas que nos causam maior mal, não são as que não sabemos, mas aquelas que achamos saber, e pensamos que são verdades". Consultar Mark Twain seria uma boa fonte.