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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

É a desigualdade, estúpido!

Sob o enredo "Brasil, Eu Quero Falar de Você", a Águia de Ouro abordou as diversas formas de exploração do povo brasileiro, desde a época colonial, com a escravidão de índios e negros, até o cenário de desigualdade social dos dias de hoje - Ricardo Matsukawa/UOL
Sob o enredo "Brasil, Eu Quero Falar de Você", a Águia de Ouro abordou as diversas formas de exploração do povo brasileiro, desde a época colonial, com a escravidão de índios e negros, até o cenário de desigualdade social dos dias de hoje Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Colunista do UOL

27/01/2022 04h00

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O maior problema do Brasil é a desigualdade. Há muitos, mais nada supera a desigualdade e seus efeitos para a população brasileira e para o Brasil.

Elites dirigentes, mercado financeiro, políticos, sobretudo do Centrão, e mesmo parte da população comum não se dão conta.

Estamos mergulhados completamente na cultura da desigualdade, que a aceitamos sem perceber o corolário. É muito triste! E, devastador.

Enaltecer o Teto de Gastos, que foi uma forma de conter despesas diminuindo o investimento público, e queriam que fosse por 20 anos, com revisão em dez, e ainda há quem o defenda. Inacreditável.

Sabendo como o Congresso funciona, Michel Temer que lá foi gestado, estabeleceu o Teto. Resultado: a cupidez pelo uso das verbas não se extinguiu , vieram os dribles, os Orçamentos Secretos, e o que encolheu foram os investimentos públicos. Vergonha!

Raul Velloso, conceituado economista especializado em contas públicas, e insuspeito como alguém de extrema-esquerda, falou em entrevista para o Estado de SP:

"Sou fortemente contra essa política equivocada de Teto de Gastos. No fundo, deve ser isso que forçou eles a fazerem esse corte nos investimentos, como a única forma de acomodar a concessão feita a essas outras despesas ligadas ao apoio ao Centrão".

O Centrão governa o Brasil E aumenta as desigualdades não só com a alocação infeliz de verbas que faz, mas mantendo uma forma de governar, que fabrica desigualdades e pobreza, com parlamentares que não são controlados pelos eleitores, por conta do sistema que temos, onde a maioria não elege seu deputado. Sistema proporcional, sistema desigual.

Velloso se aprofundou: " Fico irritado ao ver que querem seguir uma política macroeconômica que é vista como insubstituível e na verdade não o é. Num país como o Brasil é muito difícil mexer na curva do investimento privado. O que vai determinar as variações para cima e para baixo é o INVESTIMENTO PÚBLICO. O investimento privado não entra no lugar do público. Eles são complementares, não substitutos. Estamos perdendo a oportunidade de fazer o PIB crescer".

"Temos que ter outro tipo de Teto, do endividamento como os EUA fazem"- disse Velloso. e pontificou; "Não há problema de subir a dívida, desde que esteja atento à questão da qualidade do gasto. Ela é mais importante do que o nível do gasto". " Não tem por que essa preocupação exacerbada que existe na redução da relação dívida e o PIB". Como queríamos demonstrar em outras colunas.

O princípio da demanda efetiva é ignorado, pelos neoliberais. Que produziram um sistema, com gênese em Reagan/Tatcher , e que se consolidou com o nefasto Consenso de Washington, e nos trouxe a esse quadro atual de desalento mundial, concentração de riqueza e bilhões na extrema pobreza. Não funcionou, piorou as coisas.

Milton Friedman se escafedeu, o mundo onde as empresas tinham como única missão dar lucro, virou o mundo da ESG, da preocupação com o papel social das empresas. E, tem Novos, que ainda não perceberam o desastre onde essa "filosofia" nos levou.

Fernando de Holanda Barbosa, professor de economia da FGV e doutor pela Universidade de Chicago completou em entrevista para o Estado de SP:

"Teto de Gastos não funcionou como âncora fiscal. Ele acha que o Brasil deve buscar outras soluções para sair do ciclo de estagnação. "Temos que colocar não o Teto de Gastos, mas o piso do superávit primário. Quem não cumprir sofre impeachment e vai para a rua".

José Roberto Afonso, um dos pais da Lei de responsabilidade Fiscal, portanto não um estouvado, aludiu atermos outro controle, que não os atuais. Não precisou qual, mas divergiu do que tivemos.

O Teto de Gasto é um fetiche para controle da forma de governar. Incensado pelo mercado.

Sairmos da desigualdade proporciona muitas conquistas.

1- Ter um país decente, eticamente responsável em termos humanitários, extinguirmos a extrema pobreza, que pode ser extirpada eliminado os privilégios. Tornar a vida das pessoas digna.

2- Agregar pessoas que estão excluídas e invisíveis ao consumo, como no Auxílio Emergencial, e aumentar o consumo dos pobres. Robustecendo a economia para o bem de todos.

3- Acabar com a desculpa que o Centrão e outros parlamentares têm para enviar recursos com interesse eleitorais utilizando a pobreza como escudo. Ao acabarmos com a extrema pobreza e melhorarmos o nível dos pobres, eliminamos a condução esperta de verbas pelo Orçamento. Fim do populismo malandro.

4- Criarmos a possibilidade de mobilidade social pelo melhor caminho, o da oportunidade para os que não a tem.

A desigualdade é a melhor forma dos espertos se darem bem, e por isso, e pela cultura da aceitação instalada, o cenário continua assim.

A desigualdade é um instrumento para o que há de pior na nossa política, hoje representada pelo Centrão, ao qual Bolsonaro disse sempre ter feito parte. Para o general Heleno tomar mais Lexotan e criar menos refrões..

O nosso problema não é o Teto de Gastos, o ajuste fiscal, é a desigualdade. O Centrão é a maior usina dela.

Um programa cuja a ênfase seja o fim da desigualdade, é que os estúpidos não estão enxergando.

A questão não é crescimento, só crescimento não distribui renda. Vide tempo do milagre econômico.

A questão é crescimento com ELIMINAÇÃO DA EXTREMA POBREZA E REDUÇÃO DRÁSTICA DA DESIGUALDADE. O foco é a desigualdade.

Desejável e possível.