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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Os erros de Simone Tebet para ser terceira via

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) - Jefferson Rudy/Agência Senado
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Colunista do UOL

16/04/2022 09h39

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Simone Tebet reúne as maiores condições para ser a terceira via que possa despontar como competitiva.
Ela é a mais viável para tirar Bolsonaro do segundo turno. Lula já está lá, se não triunfar no primeiro turno. E está agindo para não fazê-lo.
Só que Tebet não se ajuda. Não faz a lição de casa.
O primeiro erro maior é a falta de um discurso que lhe dê vida ao rosto.
Simone ficou conhecida pela CPI do Covid, onde atuou combativa, reta, efetiva, como quando conseguiu a declaração do deputado Luís Miranda.
Simone não agrega à sua imagem uma ideia, um caminho que trilhará se eleita.
Cometeu o mesmo erro de outros políticos de seguir a linha bolsonarista de um Posto Ypiranga, para terceirizar o programa de governo e fugir das perguntas sobre economia. E até agora seu Posto Ypiranga não produziu combustível, nada que suscitasse uma identidade a Simone Tebet.
Ela só é mais uma voluntária à terceira via, e vista correndo de gabinete em gabinete, salas de estar de lideranças como Sarney, para tentar impedir o boicote à sua candidatura no MDB e se juntar a Eduardo Leite.
Restou na lide parlamentar de "parlar, parlar", necessária, mas insuficiente.
Simone Tebet não carrega qualquer mensagem para o Brasil ao aparecer na mídia. Só a tática da exclusão de Lula e Bolsonaro, que outros tantos como Moro, Ciro, Doria, Janones também carregam.
Com 1% não se destaca do bloco, ao contrário.
O segundo erro decorre do primeiro, Simone não tem votos. Está esquálida nesse importante quesito. Seu nome já está na prateleira há meses.
Deveria ter uma estratégia junto aos seus eleitores conhecidos do Mato Grosso do Sul, das mulheres que representa no Senado, como líder da bancada feminina, para alavancar a candidatura acima dos 3% e se destacar do grupo dos nanicos eleitorais.
Para isso, precisa aparecer com mais de 5% e se colocar no patamar de Ciro, do ex-Moro, na margem de erro. Por ser nova no degrau, surgiria como força ascendente, Ciro aparece lá como descendente, uma vez que não aglutina, nem sobe.
Simone Tebet já tem marqueteiro há tempo, já possui Posto Ypiranga para dar alguma grande ideia-força distintiva, uma "groundbreaking idea", como diram os americanos estrategistas.
Ela precisa fazer a lição de casa de tocar no povo e conquistar votos.
Parece estar na posição confortável de sendo não-Lula, não-Bolsonaro, esperar que os votos corram atrás dela, não ela dos votos. Toda a soberba será castigada.
Terceiro erro de Simone Tebet, que se desdobra do segundo, é não ter foco nas questões principais que tirariam o país do baixo crescimento, da possível armadilha da renda média e realizasse desenvolvimento com distribuição de renda.
Enquanto Lula e Bolsonaro permanecem cometendo bobagens e se atacando mutuamente, com verborragia inócua para a vida dos cidadãos, Tebet deveria se distinguir por discutir conteúdo.
Ser opção entre os dois líderes não é só possuir outro nome, contudo haver comportamento e conteúdo diversos. A diferença fica visível, pelo exemplo.
O quarto erro relevante, que advém do terceiro, é não mostrar conhecimento, nem ter política pública para erradicar a extrema pobreza no Brasil, que é possível, e iniciaria o processo concreto e perceptível para a sociedade de diminuição das desigualdades que assolam o Brasil.
Como se vê, um erro leva ao outro, uma bola de neve que esmaga a ascensão da campanha.
A debilidade permite o risco de efetuar uma virada positiva. Crise é oportunidade. Fazer o contrário do que está realizando.
Ela, no momento, é a pessoa errada no lugar certo. Tem demanda, mas não fornece oferta, aos eleitores que não gostam nem de Lula, nem de Bolsonaro.
Simone está em disputa com Bolsonaro, como já aludimos acima, não há possibilidade de Lula estar fora do segundo turno.
Mesmo com a sequência de equívocos que vem cometendo junto com o PT. Vaiar Paulinho, tendo Alckmin ao lado, que também atuou pelo impeachment de Dilma, é uma incoerência, que só avulta a forma sinuosa e inconfiável do PT se comportar com seus supostos aliados.
Simone pode, ao invés de renascer das cinzas, nascer da gestação da terceira via, que ainda não se deu.