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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A questão dos moradores de rua pode ser resolvida em 4 anos em SP

"Cracolândia": documentário  - Reprodução
'Cracolândia': documentário Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

27/04/2022 13h42

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Basta ser humano.

São Paulo, cidade, tem dinheiro, tem mais do que o suficiente, os mecanismos já existem, o Prefeito aponta para almejar isto, temos grandes lideranças reais que trbalham no dia a dia, envolvidas na questão, e que conhecem o problema, nada nos falta para resolver.

Apenas o desafio maior da administração pública, que é a implementação.

Que se ampara em dois pilares impeditivos:

A burocracia dos processos.

E, a falha humana. Sustentada pela vaidade, sobretudo, e pela inveja, ciúme, desejo de Poder. Temperados pela disputa política no sentido da apropriação do Poder e no domínio do homem sobre o homem.

Isso é muito mais complexo do que se pensa e o maior obstáculo para a melhoria de vida das pessoas. Acima de tudo, dos mais vulneráveis.

Há muita conversa, digressão, toque de lado, e pouco gol. Muita preocupação com si mesmo e menos com o problema propriamente dito.

Reitero, a cidade de São Paulo, se quiser, resolve a questão em 4 anos, no máximo, se lograr vencer tais obstáculos.

Não é uma batalha fácil.

Os fantasmas se escondem atrás de lençóis enganosos, como reserva de domínio, sensibilidade pelo sucesso de outro, e outros problemas que a população acostumou a ser induzida por demagogos de plantão, a culpar apenas os políticos, que têm a respectiva culpa, sem dúvida, mas não são os únicos.

Muita gente lucra com isso.

São Paulo precisa enfrentar vários desafios e problemas, não são poucos, porém a questão mais importante hoje é a humanitária, algo que se transforma em piegas, se descrito. Falta vínculo afetivo.

Não há preocupação em enaltecermos e plasmarmos o afeto como algo que significativamente brasileiro. Jogamos fora nossa maior distinção no mundo.

Falta incentivo para as pessoas ajudarem as outras e desenvolverem o sentimento mais buscado e mais desgastado: o amor. Tem muita demagogia e pouco trabalho concreto, disciplinado, permanente.

São Paulo é uma cidade que pode dar exemplo para o Brasil na resolução da chaga grave de assistirmos tanta gente na rua, desconsolada e vivendo uma vida indigna, que a frequência do cenário, vai tornando este impacto horrível do povo da rua, se tornar um mal aceitável e que pareça inexorável. Não é.

São Paulo pode mudar este conceito conformista.

Como?

Além das medidas de políticas públicas, lutar contra a máquina da burocracia, que devem ser implantadas, precisamos lutar contra nosso comportamento que produz isso.

Doações são escassas e não sistêmicas, aparecem em momentos de crise e desaparecem e há um preconceito insano, quando o povo da rua tem os mesmos defeitos e virtudes que nós, fora da rua, temos. São seres humanos absolutamente iguais a nós, só mais vulneráveis, e geralmente sem vínculo afetivo.

Sim, o que está aí não é um simples erro do Estado, é um resultado suscitado por todos nós, pela interação de todos nós, caso contrário não se sucederia. Nada acontece por acaso, ou por erro só do Estado. Essa é uma mentira que os liberais contam para nós. Quem faz a sociedade somos nós todos reunidos.

As pessoas da rua precisam além de um estímulo, que passa por uma Renda Universal Básica, mas não só, e também por afeto real e amor. Convivência, acolhimento afetivo. Socialização.

Tem gente perigosa, que rouba? Tem. Assim como há empresários de empreiteiras que roubam, há gente perigosa em toda a sociedade. Por que só cobrar do pessoal de rua?

Não adianta só ficar chocado e lamentar em casa. Ter 15 segundos de inconformismo. É necessário ser consistente e perene.

É preciso mobilização, inclusive para empurrar a máquina pública, que é lerda, porque assim é nossa cultura. Não é uma falha de Estado, é uma falha nossa como sociedade desde 1500.

As pessoas, como diz o padre Lancellotti, precisam de convivência, viver junto com alguém, não serem tratadas como algo inumano,

Precisam de coisas simples como um cartão de transporte com passagem de ida e volta para quando recebem oferta de emprego em outro canto da cidade e não podem se deslocar.

Uma central para chamadas, um 157, porque o 156 é burocrático e a pessoa em estado de desespero fica esperando por muito tempo e 3 horas depois vence a chamada.

Precisam de atenção, como qualquer pessoa, reconhecimento, sinalização que são relevantes e oportunidades.

É uma população heterogênea, como a sociedade inteira, não há uma solução única para todos, e o maior obstáculo é o preconceito.

O preconceito principal é dizer, que moradores em situação de rua não querem trabalhar, e desejam se acomodar com uma Renda Básica. Não é verdade.

Há de tudo.

Temos cerca de 35 mil pessoas em situação de rua, dez mil, pelo menos, querem muito trabalhar e progredir. Vamos proporcionar isso a elas. Há vagas em programas do estado e do município.

Tem drogados e viciados em álcool, como a alta sociedade exibe, que precisam de tratamento.

Tem mães solo que precisam de atenção especial.

Existem milhares que gostariam de voltar às suas cidades ou famílias. Há famílias dispostas a adotar moradores em situação de rua, e concomitantemente um programa na Prefeitura que concede R$ 1.200/mês para a família que o fizer, com o compromisso de tratar a pessoa como humano e não como escravo, e não colocá-lo de volta na rua.

Há muito mais. Há programas suficientes na Prefeitura de São Paulo, somando-se aos programas estaduais e federais, onde há vagas de trabalho, os problemas são solúveis.

Basta querer. Tem dinheiro suficiente. Tem desejo do Prefeito.

Em 4 anos, as pessoas NÃO sabem disso, podemos ter o sofrimento de praticamente 100% dos moradores de rua extinto.

Seria a maior obra que São Paulo faria.

E, pode fazer. Tenham a certeza.