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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula com ciúmes de Zelenski, se elege o maior cabo eleitoral de Bolsonaro

Lula na capa da Time - Reprodução/Time
Lula na capa da Time Imagem: Reprodução/Time

Colunista do UOL

05/05/2022 10h22

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Lula perdeu o senso das proporções. Está em escalada vertiginosa de cometer impropriedades. Seja pela húbris, pela vaidade inserida, seja pelo vezo "macunaímico" que o constitui.

Quando Obama disse que Lula era "o cara", numa brincadeira de café de reunião de cúpula, ele acreditou. Lula tem o complexo de vira-latas, uma baixa estima estrutural, que ele compensa com a euforia de precisar "se achar".

Lula chegou longe, não precisaria disso, mas como o problema é existencial, ele necessita ser nutrido permanentemente de elogios para crer que é mais do que é.

Quando vê Zelenski ocupar este espaço que já foi seu, de ser admirado pelo mundo, por ser " o coitadinho" de plantão, que faz algo nobre e surpreendente, Lula fica com ciúmes. Como um irmão invejoso.

Juntando o espírito de inveja, Lula, "o cara de Obama", à reação do vira-latas, que é a soberba exagerada a camuflar a baixa autoestima, Lula se pôs a falar, cada vez mais, ofertando campo para Bolsonaro crescer.

Lula, como já se aludiu em outras colunas, vem se consagrando no maior cabo-eleitoral de Bolsonaro, pela via inversa: fala impropriedades, a exibir suas fragilidades, fazendo com que pessoas que não estimam muito Bolsonaro, mas que possuem incômodo com o PT e sua imensa soberba hegemônica, entendam que o "Lula do Futuro" será exatamente como ele Lula recomendou; "olha para o que fiz".

As pessoas olham e relembram:

-do mensalão; da exploração da Petrobras; do apoio reiterado a Dilma; da ligação com Palocci, e depois, da imersão em Guido, indo de um extremo a outro; depois da tormenta de Dilma, a indicação de Trabuco e a anuência do preposto de Trabuco, Joaquim Levy, voltando para uma política de corte de gastos, sambando outa vez 180°; da perda de memória de tudo o que aconteceu, dizendo que "não sabia"; da "narrativa de golpe", compensada pela procura aos "golpistas" para lhe apoiarem, como Eunício de Oliveira e parte do MDB; se for mais ao passado, dos discursos inflamados no estádio de Vila Euclides, que geraram as primeiras greves, logo após acompanhadas de acordo com os patrões nos bastidores, a ponto de Lula ser o líder sindical mais amado pelo patronato.

Fora o que Lula diz que vai fazer, mas não fez quando presidente e nem como alter ego de Dilma, como a taxação de dividendos.

Nunca pediu desculpa ao PT pelas indicações que fez ao STF, com ajuda de Márcio Thomaz Bastos, após a condenação de seus amigos, pelo mesmo STF, pelo mensalão, que Lula "não sabia".

Atualmente, entre as meias-verdades hodiernas, encontra-se a "estória", que foi inocentado. Não foi. O julgamento foi considerado parcial, é outra coisa. Ele pode até ser inocentado, mas precisa de outro julgamento, que o tempo de prescrição não vai permitir.

Lula supõe que os outros não pensam.

As palavras sobre a simetria de culpa entre Zelenski e Putin, soam tão despropositadas, como quando comparam os polos Lula e Bolsonaro, que ele e adeptos reagem ofendidos.

Comparar Zelenski, que tem a respectiva culpa, à culpa de Putin, que está mandando matar pessoas, permitindo crimes de guerra por parte do Exército russo, tem o mesmo sabor azedo da comparação entre Bolsonaro e Lula.

Bolsonaro de fato é um arauto da barbárie e Lula é democrata autoritário, menos nocivo, mas que já apoiou os regimes antidemocráticos de Cuba e Venezuela. E, não condena o "paredão" cubano, nem a repressão a homossexuais da população da Ilha. Além dos empréstimos não pagos.

Lula fala uma coisa e faz outra em várias ocasiões. O que significa nunca se saber "o que saber dele", tirante a esperteza para se manter no Poder.

Tem também deslizes que vêm do aspecto demagógico ao qual se entregou atualmente, como dizer: " as salas de tiro, ... vai (sic) acabar". Lula promete bibliotecas no lugar, onde ele poderia se recolher para estudo.

E, parar com essa dicotomia eleitoral "vamos construir escolas, em vez de cadeias", "vamos construir pontes, em vez de muros". Já gasta.

Mesmo assim, Lula, "civilizatoriamente" é melhor do que Bolsonaro, veja quanto Bolsonaro é ruim, mas Lula não é a civilização contra a barbárie.

É uma distopia, "menos pior" do que a de Bolsonaro. Cheia de "Alckmins ouvindo a Internacional Socialista".

Eivada da contribuição dos antigos costumes dos petistas históricos.

O certo é que com o conjunto da obra das falas nativas de Lula e do "speech" à Time, Lula se configura no maior cabo-eleitoral do adversário, dando vida ao antípoda, com sua verve livre, conduzida pela húbris (hybris)..

Lula atua atacando a si mesmo e alimentando quem o consome, Bolsonaro, porque perdeu o senso das proporções.