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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Casamento está virando evento,eleitoral.União pela democracia é discurso?

16.11.21 - O ex-presidente Lula (PT) beija a noiva, Janja Silva, em evento junto à prefeita de Paris, Anne Hidalgo, na França - Reprodução/Twitter
16.11.21 - O ex-presidente Lula (PT) beija a noiva, Janja Silva, em evento junto à prefeita de Paris, Anne Hidalgo, na França Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

16/05/2022 08h23

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O casamento de lula está claramente inserido numa estratégia eleitoral

Cada um casa quando quiser. Nada contra. A vida pessoal deve se respeitada, até que as pessoas possam a usar na vida pública.

Todavia, quando há o sentimento de que um casamento está se tornando um evento, eleitoral, é preciso refletir. Não sobre o casamento, união sagrada e afetiva entre pessoas, mas sobre o discurso que paira paralelo, criando uma ode à democracia como instrumento base de uma jornada.

Talvez não seja a intenção do casal, mas, na política , a aparência supera o desejo

A democracia é utilizada muitas vezes como pano de fundo para projetos, que podem ser pessoais, disfarçados em movimentos públicos a favor da negação de um horror atemorizante.

Só que quem presta tal favor, a todos, pode, muitas vezes, estar se prestando favor maior.

O Brasil vive uma bifurcação aziaga. Culpa de todos nós.

Deixamos chegar onde estamos, com hipotéticos líderes egoicos, marqueteiros, cheios de requisições, escassos em contribuições pessoais, numa terceira opção. Gente que quer uma carona, não ajudar a empurrar o veículo.

Um, prega a salvação do Brasil protagonizada pelo Centrão e pelo armamento da população. Em prol da liberdade.

Liberdade é poder viver. Sem ser alvejado na esquina por um colecionador de armas irado com a derrota de seu time ou em defesa da respectiva crença confessional. Caminho inaceitável.

Outro, melhor do que o "um", no sentido civilizatório, quer passar uma boiada de interesses partidários, sem pedir perdão, nem ato de contrição.

Escuda-se na ruindade do outro.

O casamento de Janja alocado em tempo preciso, para a campanha, marca uma trajetória do "Bom, dia Lula" à cadeira central, ao lado dos grandes líderes de partidos aliados e da presidenta Gleisi, uma ascensão vertiginosa, mas que não se encaixa dentro da lógica de um governo de União Nacional. Trata-se de algo pessoal misturado com nacional. Estranho.

Cada um casa quando quer, sobretudo para aquilo que deseja como produto do casamento.

O único problema é que essa boda ajuda o discurso do adversário, quando este diz que o PT tem uma agenda voltada para si mesmo, e extirpa o viés de congregação nacional pela eliminação do fascismo latente, e lhe dá oportunidade de explorar a alta probabilidade de um círculo vicioso, semelhante ao que ocorreu em Dilma. Tira a manifestação coletiva.

Uma volta a tudo como era antes.

Casamento com o fim de ilustrar a si mesmo, durante batalha coletiva, soa ao contrário do que o Padre Lebret dizia: "ser um Zé Ninguém a serviço de uma grande causa". Que Alckmin tendo ouvido de Montoro, a fonte original, gosta de repetir como de próprio foro.

Janja surgiu toda de branco, descolada, em alegre despertar, dançando em homenagem a uma imagem. É o culto à personalidade com a desculpa da emoção.

Esse movimento que não harmoniza discurso e prática, e que soa com uma comemoração, nos deixa céticos, ainda que não tenhamos opção.

A sobriedade é um requisito da sinceridade. O casamento poderia ser antes do furdunço eleitoral, ou, depois, quando se colheria uma lua de mel, mais doce e discreta. Mas, se queria discrição? Uma casinha na praia desabitada, só com a presença do luar?

Lula vai ter "Lula de mel "nas caravanas para "construir o programa de governo junto com o povo"?

O povo não é bobo.

É bom não abusar dos vícios de Bolsonaro.

Isso só pode favorecer o inimigo.