Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
'Lularcia', a novidade eleitoral que está surgindo
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Solidariedade sai na frente com a bandeira criativa: "Lularcia". Mas ouvi também vários outros partidos.
O Brasil é sempre surpreendente, e traz consigo contradições e oximoros constantes.
Em 2018, João Doria (PSDB) só venceu Márcio França (PSB) por conta do BolsoDoria, ao qual se agarrou desesperadamente.
Pois a vida castiga, diriam alguns, ou o futuro a Deus pertence, diriam outros.
Doria pagará pelos seus pecados, com o surgimento de uma chapa, que vai se impondo devagar e sempre, e agora recebe a benção do Solidariedade, o partido de resultados: Lularcia. Votar em Lula (PT), lá, e Rodrigo Garcia (PSDB), aqui. Estar no poder em todos os lugares.
Aos poucos, as correntes vão se conformando à realidade, e diante da hecatombe bolsonarista, descobrem que na vida só resta seguir ('Só você', dos Tribalistas), e mesmo conhecendo as tartufices lulopetistas, apertam Lula, na urna eletrônica.
Depois dos 33% que o fazem por crença fundamentalista, o resto, que eleva Lula aos 43%, 44%, o faz por absoluta falta de opção. Mas alguém tem que governar o Brasil. Então, fecha os olhos e pula.
Porém, essa mesma corrente, somada aos antibolsonaristas convictos, percebe que entregar São Paulo ao forasteiro Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) é compensação indigesta e resvala, devagar, para Rodrigo Garcia.
Está formada a chapa Lularcia. Que acaba por fulminar Doria, já bem esquálido no estado, com 4% de intenções de votos para presidente, depois de três anos e três meses como governador.
Cada um colhe o que semeou.
Contudo, há outro "feitiço contra o feiticeiro", além da ironia que alcança Doria, ex-bolsonarista. Fernando Haddad urdiu com excelência, para ele, a invenção de Alckmin como vice, supostamente para inserir Lula no centro e nos eleitores frustrados "peessedebistas". Na prática, para tirar Alckmin da frente, o popular "fazer cair para cima".
Alckmin ganharia a eleição em SP, mas como alimentava sonhos brasilienses, magoado com a votação que recebeu em 2018, Haddad vendeu Alckmin para Lula. Toda amizade é um risco na política.
Ou por traição, ou por convicção exagerada. Lula ama Haddad. Então, acreditou na "cantada" de Haddad (bonita camisa, Fernandinho; para quem lembra da propaganda), e.Fernandinho lhe concebeu Alckmin, novo integrante da Internacional Socialistas nativa.
Pois bem, aqui se faz, aqui se paga, diz o ditado com sabor confessional. Haddad, como Doria, vai amargar o Lularcia. Lula, lá. Garcia, cá.
Não é só o Solidariedade que está nessa linha, há vários partidos na ampla aliança de Rodrigo Garcia, apoiando a Garcia e apoiando Lula.
Há também, para completar a desgraça de Haddad e Doria, o Bolsodrigo, partidos votando em Bolsonaro, lá, Garcia, aqui.
Tudo isso é consequência, também, da decisão muito infeliz do STF de 2006, nas asas da prepotência de Marco Aurélio Mello, o "descobridor da liberdade de opinião dos partidos", que levou o Brasil ao caos do manicômio partidário. Hoje existe todo tipo de aliança. Arranjo matemático.
Todavia, a chapa "Lularcia" está crescendo, porque a lógica que prevalece é da prioridade presidencial. Como vai restando a alternativa "votar em Lula" contra o mal maior, a compensação é não ofertar São Paulo nem ao bolsonarismo forasteiro, nem ao petismo de resultados.
Há uma convicção, que reparei ouvindo todos os partidos relevantes, por intermédio de algum líder qualificado: PT no Brasil, em São Paulo, não. É demais."Enough is enough".
São Paulo, com a "última aldeia gaulesa (Asterix) antipetista, consagrou o PSDB por anos, não só por méritos, mas por alternativa ao petismo.
Alckmin não entendeu. Nem Haddad e Lula, que entraram no conto do vigário, que Alckmin venceu várias eleições por ser o antiPT de plantão.
Não por liderança pessoal. Alckmin tinha bases no interior, sim, menos do que se falava, e mais por representar um antipetismo moderado.
Rodrigo Garcia, hoje, é a maior esperança do PSDB de não se extinguir totalmente.
A chapa Lularcia está posta.
Ouvi muita gente não digo entusiasmada, mas conformada com esse destino.
Cabe a Garcia e Lula gerarem entusiasmo à escolha feita pela conveniência de evitar Bolsonaro lá, e o PT (Haddad) aqui.
O mundo dá voltas.
Doria quer ser candidato na Justiça, o que significa ninguém com ele na campanha. Não se faz campanha de conquista na imposição. Era o que Doria cometia durante o governo. Em vez de incluir, excluía e impunha. Acabou quase sozinho, melancolicamente — para quem foi prefeito e governador. Aqui se faz, aqui se paga.
Lula não é uma esperança, é uma opção diante de Tânatos.
Assim, surge Lularcia, conforme realidade política herdada.
Eles precisam acender a chama, que ainda não brilhou, nem como faísca. Legando-nos, por ora, uma eleição sem brilho. Sem inspiração, arrebatamento.
Na vida só resta seguir, um ritmo, um pacto, um rio afora.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.