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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Doria, Aécio e Bruno, e a eutanásia assistida do PSDB

31.mar.2022 - João Doria (PSDB) e o presidente do PSDB, Bruno Araújo, durante evento no Palácio dos Bandeirantes - Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
31.mar.2022 - João Doria (PSDB) e o presidente do PSDB, Bruno Araújo, durante evento no Palácio dos Bandeirantes Imagem: Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

19/05/2022 15h45

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Doria quer ser candidato na marra, impondo-se ao partido, Aécio faz um jogo bem esperto, Bruno Araújo, boa pessoa, mas insuficiente para dirigir o PSDB fundado e liderado por Montoro, Covas e FHC.

O PSDB nasceu de uma dissidência clara com Quércia e sua forma de dominar o PMDB de São Paulo. Não foi a briga com Sarney que desejava ficar mais tempo no cargo, como muita gente pensa.

O PSDB surgiu para fazer a luta pela social-democracia num partido que não teria o domínio dos diretórios exercido por Orestes Quércia no PMDB.

Doria, ideologicamente, quis levar um partido social-democrata, com o peso das histórias de Montoro, democrata-cristão, amparado no humanismo e frontalmente contra o liberalismo político, Covas e FHC, um professor com sólida formação de centro-esquerda, para a direita, sustentada pelo credo liberal. É de matar, o partido. Foi o primeiro erro de Doria.

Depois ele colocou Bruno Araújo na presidência e, a seguir, quis puxar o tapete de Bruno e assumir o partido para presidi-lo durante as eleições. Creio que já contava com a resistência provocada, pela sua forma impositiva de ser.

É real que venceu as prévias, com anuência de Eduardo Leite, e que o PSDB não pode ter outro candidato único que não seja ele. Todavia, almejar ser o candidato, na marra não dá. Politicamente impossível.

No que vai dar? Numa "cristianização" colossal, sobretudo quando ele ostenta humildes 3% nas pesquisas, em todo o Brasil, e cerca de 4% em São Paulo, como candidato à presidência, após governar por 3 anos e 3 meses. Além de ter sido prefeito e perder a eleição para governador, na Capital, para Márcio França.

O governador de MS já aderiu publicamente a Bolsonaro. Garcia está comprometido com a terceira via, se houver composição entre partidos, conforme aludiu em entrevista ao Estado de SP.

Quem ficaria com Doria? Só o governador da Lide.

Lideranças de porte, como Tasso Jereissati, não estão com Doria. É surreal que ele insista. Determinação vale até certo ponto, não dá para colocar a pasta de dente de novo no tubo.

Doria precisa saber respeitar os limites, que vieram de sua atuação pessoal. Mesmo sendo um governador tecnicamente acima da nota cinco, posicionando-se correta e enfaticamente com relação à vacina, ele não logra obter a simpatia do eleitorado. Sendo um publicitário e acreditando em pesquisa, que por certo realizou, ele só necessita crer na realidade a ele explicitada. Ninguém intermediou a relação dele com o eleitorado. Ele falou direto com inúmeras entrevistas coletivas.

Aécio aprendeu com o avô a arte da política escorregadia. Ele foi contra Doria e agora aparece como um paladino do direito de Doria, não por crer nisso. Mas, porque sabe que Eduardo Leite sumiu na derrota e nas suas idas e vindas, vacilações e recuos, e não vai mais se colocar como realidade no PSDB, nem na cabeça de chapa da terceira via, quando muito assume a vice; e também sabe que Doria sozinho não emplaca.

Aécio faz um apelo dissimulado para Doria. O que Aécio quer é criar condição para pular o muro para o quintal de Lula, após ter apoiado Bolsonaro nos bastidores do Congresso em certas votações.

Aecim supõe que somos todos parvos. Ele percebeu que Bolsonaro não ganha, nem fulge sua história apoiá-lo e prepara um atalho pelas montanhas mineiras para estar com Lula, logo que puder apelar para um "governo de União Nacional". Aecim tem semelhanças com Alckmin.

Bruno Araújo, estupefato e mais perdido que esquimó no Saara, sem conteúdo, caminha de forma atravessada para a solução, a fazer o partido sangrar dia a dia. É uma eutanásia assistida.

Montoro, Covas estariam estarrecidos. FHC não deve estar acreditando no destino do partido.

Melancolicamente, o PSDB que surgiu para indicar como se faz a articulação Estado e Mercado, e um Plano Nacional de Desenvolvimento com ênfase no combate à pobreza e racionalidade fiscal, está a se transformar numa piada pública ou em dó patética.

A culpa não é só deles. Se aí chegou o partido, inclusive com parte significativa da bancada apoiando Bolsonaro, é porque o todo está prejudicado.

Os tucanos estão sob risco de extinção.