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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A eleição mais complicada do Brasil está totalmente indefinida

Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de SP - Divulgação/Governo de SP
Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de SP Imagem: Divulgação/Governo de SP

Colunista do UOL

21/05/2022 12h00

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A eleição para governador de São Paulo pode ser vencida por quatro candidatos. Isso não é comum.

A princípio, Haddad, Tarcísio, Rodrigo Garcia e Márcio França possuem condições para à vitória. Com probabilidades diferentes, mas equilibradas entre si.

Haddad está na frente, com dianteira considerável, porém a rejeição ao PT e a ele mesmo, que foi um incumbente que não chegou ao segundo turno da disputa pela prefeitura, restringem as respectivas chances no segundo turno.

Em condições normais de temperatura e pressão, Haddad chega na ponta, no primeiro turno. A montanha que já deve começar a escalar é a repulsa latente no turno seguinte. Tarefa que não é fácil.

Com Lula na dianteira, em termos nacionais, além das rejeições já mencionadas acima, junta-se um desejo de compensação em SP. Como as pessoas que não são petistas, precisam eleger Lula para se livrar de Bolsonaro, elas tendem a compensar em SP, para não oferecer todo poder ao PT, e votariam contra Haddad.

São Paulo possui a tradição de não acatar o PT, quando se trata do estado como todo.

Para vencer tal desafio, o PT, como fez em 2018, desejará ter Tarcísio no segundo turno. Para replicar a dicotomia Democracia x Barbárie, PT x Bolsonaro. Haddad não triunfa se enfrentar França ou Garcia no segundo turno. Logo vai acender uma vela para Tarcísio, pragmaticamente. Com o mesmo pragmatismo que parlamentares do PT embarcaram no Orçamento Secreto, na surdina.

Tarcísio, forasteiro, ave de nova arribação, conta com o bolsonarismo-raiz para chegar ao segundo turno, adicionado a ele, um pedaço mais do eleitorado, que não é raiz, não aprecia Bolsonaro, mas, sendo conservador, entende que Tarcísio é mais civilizado e tem mais neurônios do que Bolsonaro.

Para Tarcísio, também é melhor a disputa com Haddad, porque aí teria o "Asmodeu de esquerda" para malhar, a oferecer solução contra o "esquerdismo que a direita combate", o fantasma do "comunismo" que não existe, mas sempre é lembrado pelos direitistas na hora da eleição.

O penúltimo comunista no Brasil foi Oscar Niemeyer e o último é o atual presidente do PCB. Nem os aliados compreendem bem o que significa.

Então, por trapaça da vida eleitoral, Haddad e Tarcísio vão "se querer" no primeiro turno. Um amor fatal.

França atualmente vive no limbo.

E, na nuvem da indecisão misturada com o desejo. Falando com apoiadores, França crê, no fundo da alma, que pode vencer a eleição. Seja enfrentando Haddad, por isso já pintou que não se confunde com o "pantene" vermelho PT.

Ele não está de todo errado, mas força um pouco a situação. França não foi um governador tampão espetacular e grande parte dos votos que teve foram votos contra Doria. Todavia, esta é uma alternativa tudo ou nada, se concorrer perde o direito de indicar alguém na vice do PT e pode acabar um cidadão comum sem mandato. E sem mandato no Brasil, o político é insignificante.

França já flertou com a ideia de indicar o filho para vice de Haddad, para garantir um lugar pra a família no panteão do poder, e se candidatar ao senado, numa eleição que pode vencer mais facilmente. Senado é uma eleição majoritária sem segundo turno, pode-se ganhar com cerca de 25% como fez o major Olímpio. França com o "pantene""vermelho PT, pode chegar em 30%, se o PT não o trair. Dúvida cruel é o que vive França, o homem que veio da Baixada, erguido por Covas, que havia brigado com o Prefeito de Santos de então, e resolveu dar tudo à França, em termos de benefícios de políticas públicas.

O mundo dá voltas.

Rodrigo Garcia, tentando se desvencilhar da sombra pesada de Júpiter, de Doria, busca avançar via as centenas de prefeituras que o apoiam, sobretudo, começando pelas pequenas, em estratégia elaborada em conjunto com Milton Leite, pois nas menores os prefeitos agraciados, têm mais poder sobre o voto da população.

Porém isso não é suficiente, até por Tarcísio estar procedendo agenda paralela indo atrás dos prefeitos, após Garcia passar, numa espécie de" siga seu inimigo", acenando com as bondades federais.

É luta de Titãs.

Contudo, Garcia tem à disposição,a máquina governamental, que funciona em qualquer lugar, com 53 bilhões em caixa. Não é pouco.

Todos enfrentam dificuldades. Ninguém é perfeito.

Haddad, a já decantada rejeição pessoal e do PT, além do horror a Lula, que boa parte de São Paulo ostenta.

Tarcísio, além do pavor ao bolsonarismo incivilizado, é forasteiro que tem dificuldade de saber onde fica Sapopemba, como diria Jânio Quadros e Santa Fé do Sul, também. Além de ter poucos militantes com experiência política na ponta do eleitorado.

O seu eventual governo é um risco no preenchimento de cargos, e São Paulo não gosta de mudanças exóticas. Prefere o estado assentado em figuras, que identifique.

Tarcísio seria uma onda nova e incerta na máquina do poder. Empresários não gostam disso, empreiteiros também. Tarcísio também tem a incômoda presença de Skaf, um político antipático e perdedor.

Garcia foge de Doria como o diabo da cruz. Com certa razão, pois é bem diferente. Mas, sabe que, como ex-vice, terá que se confrontar com o problema, quando a TV e os debates chegarem.

Rodrigo está hesitando em anunciar um plano de governo, por receio de dizerem "por que você não fez isso, com Doria?". Dá para acertar a resposta, mas não é simples.

França, além da dúvida existencial, sofre com a falta de militantes reais, ele se escuda sempre na rejeição dos outros.

Mas, não tem "francistas" pelo estado, dispostos a fazer campanha nas franjas do eleitorado. Ele é um candidato da exclusão.

Por tudo, isso a eleição está em aberto.

Poder-se-ia dizer, neste momento, em que ela está muito insípida no gosto do eleitorado, mais focado na eleição presidencial e nos imensos problemas de sobrevivência no país que tem os 3D. Dois dígitos na inflação, nos juros, no desemprego. E, 77% das famílias endividadas. Boa parte, para comer.

Ou seja, está bem aberta ainda. E depende de algo que nenhum candidato possui para valer, carisma. Ninguém o tem suficientemente, o que os obrigará a fazer uma campanha tecnicamente correta. Nenhum fala ao coração do eleitor.

Ela pode ser estimada, por ora, em 25% para cada um, com viés de baixa para Haddad, ou seja, caminhando para 20%, por conta do segundo turno (no primeiro vai ganhar), e leve viés de alta para Tarcísio, por conta das circunstâncias.

Será a eleição mais difícil do Brasil, e elegerá quem vai se colocar na frente do palco político nacional, junto com Lula, que deve vencer.

Todo governador de São Paulo é um pré-candidato à presidente.

E, Lula vai encerrar a carreira. Não há outro Bolsonaro à vista para ele utilizar.