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Americanas: Para cada fraude empresarial que vem à tona há duas invisíveis
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Estudando os balanços de grandes empresas dos Estados Unidos, professor canadense descobriu que as fraudes contábeis são como um enorme iceberg: para cada fraude que vem à tona, duas escapam à fiscalização e ficam abaixo da linha d'água, invisíveis. O caso das Lojas Americanas está longe de ser uma raridade.
Alexander Dyck e mais dois pesquisadores das universidades de Berkeley e Cambridge (ambas nos EUA) criaram um método engenhoso para chegar a essa estimativa:
- Eles aproveitaram o fechamento de uma das maiores auditorias do mundo, a Arthur Andersen, em decorrência do escândalo da Enron (fraudou o próprio balanço ocultando dívidas de bilhões de dólares - soa familiar?), em 2001, para analisar o que aconteceu com os ex-clientes da auditoria;
- Compararam a proporção de fraudes contábeis detectadas entre os ex-clientes da Arthur Andersen com as demais empresas do mesmo porte no mesmo período e no mesmo país (EUA);
- A premissa dos pesquisadores é que haveria maior desconfiança contra os ex-clientes da Arthur Andersen, e, por conta disso, essas empresas sofreriam um escrutínio mais intenso, tanto pelas novas auditorias que foram contratadas por elas quanto pelos organismos externos de controle, como a Comissão de Valores Mobiliários.
A premissa se mostrou verdadeira: enquanto a detecção de fraudes atingiu de 3% a 4% das empresas que não eram clientes da Arthur Andersen, essa taxa passou de 10% entre as que haviam sido auditadas anteriormente pela mesma empresa que a Enron. Ou seja: quando há pressão externa para se encontrar fraudes, elas se multiplicam por três. "Os auditores e autoridades não podem olhar para o lado", explica o professor Dyck.
* Os pesquisadores estimam que as fraudes contábeis detectadas ou não destroem US$ 830 bilhões por ano do valor de mercado das empresas nos EUA.
Em entrevista ao UOL, o professor da Universidade de Toronto disse acreditar que as fraudes corporativas no Brasil sejam ainda mais frequentes do que nos EUA. Por três motivos principais:
- Os mecanismos de controle dispõem de menos recursos do que nos Estados Unidos ;
- Há uma maior concentração do controle acionário de grandes empresas por famílias ou grandes acionistas bilionários - e essas pessoas poderosas são influentes politicamente junto ao governo, aos órgãos de fiscalização e aos legisladores;
- Há mais advogados nos EUA especializados em mover ações judiciais coletivas em nome de acionistas minoritários contra as companhias acusadas de cometer fraudes contábeis.
"Por isso, acredito que o problema no Brasil seja ainda pior", diz o professor Dyck.
Ele conta que a principal mudança que houve nos EUA após o escândalo da Enron foi aumentar os incentivos para o aparecimento de delatores entre os funcionários das empresas que cometem fraudes em seus balanços:
- proteger os delatores contra ações judiciais movidas pelos seus empregadores;
- destinar aos delatores parte significativa das multas (15% a 30%) aplicadas contra as empresas.
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