Análise: Auxílio precisa chegar aos invisíveis que vivem de bico
O auxílio de R$ 5.100 para pessoas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul precisa chegar também nos trabalhadores informais, afirmou Lauro Gonzalez, professor da FGV, no Análise da Notícia desta quarta-feira (15).
O governo Lula (PT) anunciou hoje uma transferência de R$ 5.100 para famílias afetadas pelas enchentes.
A implementação a gente vai ter que ir acompanhando. Estava até comentando sobre as lições trazidas pelo pagamento do Auxílio Emergencial. O governo esperava, no início da pandemia, que 30 milhões de pessoas iriam receber essa transferência, mas 68 milhões de pessoas receberam a primeira parcela; 38 milhões de pessoas a mais.
O Paulo Guedes, sempre muito falante, chamou esse grupo de invisíveis, pessoas que estariam fora do radar. Nas pesquisas que fizemos na época, a maioria dessas pessoas ditas invisíveis, que não estavam recebendo programas, na verdade, tinham uma renda bastante baixa.
Me lembro que cerca de 75% tinha uma renda máxima de R$ 1.300, com predomínio muito grande de informais, a famosa galera da 'economia do bico'. Ou seja, havia um público muito grande que recebia pouco, vulnerável e que estava fora do radar.
O que quer essa medida de hoje seja, me parece que tem que ir no caminho de uma espécie de renda básica. Não sabemos até quando vai durar a profundidade e a duração desse momento.
Quase 50 milhões estão sob risco alto ou muito alto de inundação no Brasil
Muito além das vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, 47 milhões de brasileiros correm risco de passar por um desastre hidrológico, como inundação, enchente ou alagamento nos próximos anos. É o que aponta levantamento do pesquisador Lincoln Alves, do Inpe, divulgado pelo colunista José Roberto de Toledo no programa de hoje.
Lincoln, junto com outros pesquisadores, montaram há alguns anos uma plataforma chamada 'Adapta Brasil' para calcular os vários tipos de risco que impactam a vida das pessoas em todos os 5.570 municípios brasileiros em vários aspectos de chuva, inundação, vendaval, granizo, estiagem e tornado. Perguntei para ele qual porcentagem da população brasileira, segundo esses critérios, estava em risco de algum tipo de emergência climática relacionada às chuvas, ou seja, algum desastre hidrológico, uma inundação, enchente ou alagamento.
Ele não soube dizer na hora, mas mandou hoje a resposta: nada menos que 23% da população brasileira corre risco hoje de algum tipo de evento hidrológico catastrófico —como uma inundação, enchente, alagamento, torrente de água. Isso dá 47 milhões de brasileiros. Esse é o tamanho do pepino que temos hoje.
Municípios da região Sul são os que mais vão precisar tomar providências e se adaptar a esse cenário.
Embora, percentualmente, a região Sudeste seja a região com a maior parcela e proporção de municípios que correm esse tipo de risco, o número de cidades sob esse risco é de 900, com um risco alto ou muito alto.
Você pode falar: 'Não é tanto assim'. O problema é que os maiores municípios brasileiros estão entre esses 900 municípios onde há um risco alto ou muito alto de inundação, enchente ou algum evento hidrológico catastrófico.
A região Sul do Brasil é a região onde proporcionalmente mais municípios precisam se adaptar às mudanças do clima, por causa do aumento da frequência de eventos extremos com potencial catastrófico. São esses municípios da região Sul, notadamente Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que vão precisar tomar mais providências para se adaptar a esse novo cenário que estamos vivendo.
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