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Josias de Souza

Ruína na saúde do Rio leva gestão de Crivella à UTI

 Tânia Rego / Agência Brasil
Imagem: Tânia Rego / Agência Brasil

Colunista do UOL

15/12/2019 05h59

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Há três dias, Marcelo Crivella divulgou nas redes sociais um vídeo ofensivo à inteligência alheia. Nele, o prefeito carioca negou a existência de uma ruína no setor de Saúde na cidade do Rio de Janeiro. "A crise não existe, é falsa", declarou. Pesquisa Datafolha divulgada neste domingo informa que a administração de Crivella foi internada pelos cariocas na UTI. A recuperação vai requerer um milagre.

Hemorrágica, a gestão de Crivella é reprovada por 72% dos eleitores cariocas. A crise na Saúde, que o prefeito diz ser "falsa", é considerada o principal problema da cidade por 68% dos entrevistados. Decidido a disputar a reeleição, Crivella tornou-se um candidato favorito a fazer de um dos seus adversários o próximo prefeito do Rio de Janeiro.

A menos de um ano da eleição, Crivella oscila entre 8% e 9% das intenções de voto, dependendo do cenário. Lideram a pesquisa o ex-prefeito Eduardo Paes e o deputado Marcelo Freixo. No cenário com mais candidatos, Paes amealha 22% das preferências, contra 18% atribuídos a Freixo. Os dois estão estatisticamente empatados, pois a margem de erro da pesquisa é de três pontos —para cima ou para baixo.

Bispo licenciado da igreja Universal, Crivella depende de uma intervenção divina para evitar o fiasco eleitoral em 2020. A taxa de rejeição ao prefeito supera os 60% em todas as faixas de idade, renda e escolaridade. Repetindo: pelo menos seis em cada dez eleitores declaram que jamais votariam em Crivella. Entre os que têm nível educacional superior, a aversão ao prefeito bate em 84%. A impopularidade grudou em Crivella como as escamas no peixe.

Crivella é um prefeito minoritário até mesmo entre seus "irmãos" na fé. Apenas 14% dos eleitores evangélicos classificam a gestão do prefeito como ótima ou boa. Nesse segmento, 56% classificam a prefeitura do bispo como ruim ou péssima. São índices patológicos. Deus, como se sabe, está em todas as partes. Mas Ele parece ter terceirizado ao Tinhoso a prefeitura do Rio.

Nos últimos meses, Crivella se esforça para encostar seu desprestígio num messias de carne e osso: Jair Bolsonaro. Mas o Datafolha indica que, ainda que desejasse, a divindade do Planalto não faria milagre. Apenas 13% dos entrevistados disseram que, "com certeza", votariam num candidato apoiado pelo capitão. Outros 60% disseram que não votariam "de maneira alguma" num candidato avalizado pelo presidente da República.

Tio de Crivella e líder superior da Universal, o bispo Edir Macedo tampouco seria um cabo eleitoral portentoso. Apenas 5% dos entrevistados informaram que votariam num candidato apoiado por Macedo, contra 82% que descartaram a hipótese de votar num nome avalizado pelo bispo.

Escaldado, o carioca não parece muito disposto a cair na armadilha de eleger um prefeito por procuração. Lula, que flerta no Rio de Janeiro com a candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), também é um aliado radioativo: 19% dos pesquisados disseram que votariam "com certeza" num candidato a prefeito apoiado por Lula. Mas 61% afirmaram que jamais votariam no preferido do colecionador de ações penais do PT.

Ex-ministro da Pesca do governo de Dilma Rousseff, Crivella elegeu-se prefeito surfando a onda conservadora que sobreveio ao impeachment da ex-chefe. Disputou o segundo turno contra Freixo. Prevaleceu esgrimindo um discurso em que as promessas gerenciais se misturaram a uma pregação antidrogas e antiaborto.

Guiando-se pelo mesmo manual político-religioso, Crivella tende a reagir à ruína que o engolfa de forma previsivelmente convencional. É fácil prever o seu próximo erro: vai tocar bumbo em torno da pauta de costumes. Entretanto, a crise pede algo mais. Se escutasse seu instinto de sobrevivência, Crivella talvez substituísse a embromação político-religiosa pelo trabalho.