Deus está em toda parte, mas o diabo controla o Tesouro Nacional
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O plano de Jair Bolsonaro de conceder aos templos religiosos um subsídio na conta de luz é economicamente ilógico e politicamente incoerente. A ideia fere a lógica econômica porque o catecismo liberal do ministro Paulo Guedes está baseado no dogma que considera um pecado capital pendurar no Orçamento da União mimos a corporações e atividades específicas. A proposta avilta a coerência política porque Jair Bolsonaro ostenta um discurso escorado na tese segundo a qual seu governo transformou o velho e bom toma-lá-dá-cá em coisa do passado.
Embora a equipe do Ministério da Economia resista, já está sobre a mesa um decreto que reduz a conta de luz de consumidores noturnos conectados à rede de alta tensão, categoria em que se encaixam os grandes templos, as basílicas, as catedrais. Como ainda não inventaram uma oração capaz de anular os custos, a diferença descontada das igrejas será repassada para os demais consumidores de energia ou para o Tesouro Nacional, o que dá na mesma.
A ideia surge num instante em que a parceria de Bolsonaro com as igrejas evangélicas rende ao presidente o milagre da multiplicação de assinaturas nas folhas de adesão ao pedido de criação da Aliança pelo Brasil, o novo partido que muitos preferem chamar de Aliança por Bolsonaro. Fica entendido que o toma-lá-dá-cá não foi extinto. O balcão permanece. Houve apenas uma troca de mercadores. Saíram o PMDB e seus assemelhados. Entraram a bancada evangélica e seus congêneres.
No fim das contas, tudo continua girando em torno do dinheiro. Deus fez o mundo. Criou o trigo e o pão. Na sequência, surgiu o pão que o diabo amassou. Quando as pessoas já se conformavam com a ideia de que teriam de carregar uma cruz durante toda a existência, o Tinhoso inventou o subsídio. Desde então, a maioria dos homens carrega duas, três, quatro cruzes para que alguém não carregue nenhuma. Deus, como se sabe, continua em toda parte. Mas o diabo controla o Tesouro Nacional.
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