Governo funciona melhor fora das redes sociais
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Estudo feito pela FGV a pedido do Estadão demonstra os efeitos da prioridade que a família Bolsonaro atribui às redes sociais. Jair Bolsonaro e seus três filhos com mandatos parlamentares adquiriram 3,7 milhões de novos seguidores no Twitter no intervalo de um ano, um salto de 70%. Deve-se o crescimento à forma metódica com que a família age para transformar as redes sociais no seu habitat natural. Isso não é de todo ruim. Mas o fenômeno também tem o seu lado nefasto.
Se a vitória de Jair Bolsonaro na sucessão de 2018 provou alguma coisa foi que já não é possível fazer política longe das redes sociais. Graças a elas, um político com todos os vícios que três décadas de mandatos sucessivos produzem conseguiu se eleger enrolado na bandeira da ética e entoando o discurso da nova política. Foi no berço do Twitter, do Facebook e do WhatsApp que Bolsonaro renasceu como uma alternativa antissistêmica. Quem ainda não enxergou o peso das redes já está fora, será excluído ou nem entrará no jogo da política.
O que falta a Bolsonaro é entender o seguinte: as redes sociais elegem, mas não governam. Sempre que a Presidência lhe parece um fardo insuportável, Bolsonaro vai à sua bolha eletrônica para identificar os inimigos e recolher o veneno que destila diariamente nas entrevistas defronte do portão do Alvorada. Esse modelo produz ruídos e crises, não soluções. Bolsonaro ainda não notou. Mas o pedaço do seu governo que funciona é aquele que, diante de questões duras de roer, sai das redes para conversar um pouco.
Foi conversando, por exemplo, que o ex-deputado tucano Rogério Marinho, secretário de Previdência da pasta da Economia, ajudou a azeitar a aprovação da reforma Previdenciária no Congresso. Foi dialogando com o mercado que o ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, identificou as oportunidades que fizeram deslanchar os projetos de concessão no primeiro ano do governo. Foi gastando saliva que a ministra Tereza Cristina, da Agricultura, desarmou as crises ambientais e ideológicas que ameaçavam o agronegócio brasileiro. Bolsonaro seria um presidente melhor se conseguisse lançar um olhar por cima do horizonte turvo e estreito das redes sociais.
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