Frigideira pode ser plataforma de Moro para 2022
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Quem acredita piamente em Jair Bolsonaro perde o direito de piar quando o presidente desmente a si mesmo. Longe dos refletores, Bolsonaro conversa sobre o desejo de promover ajustes no ministério desde o final do ano passado. Quando o tema chegou ao noticiário, ele declarou: "É fake news, tá ok?" A notícia era verdadeira, o presidente é que é meio fake. Ele diz uma coisa e pratica o contrário.
Vítima mais ilustre da dicotomia presidencial, Sergio Moro acreditou no chefe quando ele desmentiu, no final do ano passado, o plano de desmembrar a pasta da Justiça, transferindo a Segurança Pública para Alberto Fraga, um obscuro ex-deputado federal do DEM de Brasília. Agora, Bolsonaro admite em público o que apenas sussurrava à sombra.
Sergio Moro retorna à frigideira no final de uma semana que começou com uma entrevista na qual o ministro declarou que seu relacionamento com o presidente é excelente. Assombrações e fantasmas aparecem para quem acredita neles. Ou o ex-juiz da Lava Jato ergue a coluna vertebral ou se arrisca a comprometer, por excesso de submissão, o prestígio que lhe rende altos índices de popularidade.
Bolsonaro tem uma propensão para a teatralidade. Expressando-se numa linguagem rudimentar, ele acha que pode convencer as pessoas de qualquer coisa. Depois de incutir na alma de Sergio Moro a crença de que ele seria um superministro, o presidente avalia que a sociedade vai acreditar que a grande necessidade da segurança pública é a recriação de um ministério específico.
Bolsonaro talvez devesse duvidar um pouco de si mesmo. Além de empurrar o ex-juiz da Lava Jato para um projeto eleitoral em 2022, o presidente pode descobrir que, por melhor que seja o seu teatro, parte da plateia não está suficientemente ensaiada para fazer o papel de idiota.
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