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Josias de Souza

Generais queriam reforma ministerial mais ampla

REUTERS/Ueslei Marcelino
Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino

Colunista do UOL

15/02/2020 05h03

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O núcleo fardado do Planalto sonhava com uma reforma ministerial mais ampla. Para os generais, Jair Bolsonaro acertou ao associar a dança de cadeiras à noção de eficiência administrativa. Mas errou ao renovar o prazo de validade da blindagem oferecida a ministros cujo desempenho é questionado.

Avalia-se que a lógica prevaleceu na Casa Civil, com a troca de Onyx Lorenzoni pelo general Walter Braga Netto. Foi observada também na substituição de Gustavo Canuto por Rogério Marinho na pasta do Desenvolvimento Regional. Ficou comprometida, no entanto, em pelo menos três ministérios.

Em privado, os generais com gabinete no Planalto lamentam que Bolsonaro tenha mantido nos cargos os ministros Ernesto Araújo (Itamaraty), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e, sobretudo, Abraham Weintraub (Educação) —uma trinca que, em 2019, revelou-se parte do problema gerencial do governo.

Disciplinados, os militares conformam-se com a constatação de que Araújo, Salles e Weintraub sobrevivem porque seguem orientações do chefe. E celebram a conquista de um par de atenuantes.

Na área internacional, Bolsonaro lipoaspirou as atribuições do assessor especial Filipe Martins, que ecoa no Planalto a verborragia ideológica do chanceler e do polemista Olavo de Carvalho. Acomodou-o abaixo do almirante Flávio Rocha, nomeado para a chefia da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência.

No setor ambiental, o vice-presidente Hamilton Mourão estabeleceu-se como um contraponto a Salles ao receber do presidente a atribuição de coordenar o recriado Conselho da Amazônia. Nele, têm assento, além de Salles, outros 13 ministros.

Bolsonaro celebra a militarização do Planalto como um avanço. O ânimo do presidente contrasta com um receio dos militares. Em conversa com dois parlamentares governistas, um dos auxiliares do presidente batizou o temor do grupo da farda de "Efeito Santos Cruz."

Referia-se ao general Carlos Alberto dos Santos Cruz, o ex-ministro palaciano que foi detonado após seis meses de governo em meio a fofocas e aleivosias espalhadas por Carlos Bolsonaro, o filho Zero Dois do presidente, e pelo seu guru Olavo de Carvalho.

A menção ao nome de Santos Cruz, que mantinha com Bolsonaro uma amizade de três décadas, indica que os generais continuarão dando expediente no Planalto com um olho na mesa de despachos e outro nos parafusos de suas poltronas.