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Josias de Souza

Crise das polícias é pesadelo antigo do qual o Brasil não consegue acordar

Divulgação/Governo do Estado do Ceará
Imagem: Divulgação/Governo do Estado do Ceará

Colunista do UOL

21/02/2020 18h42

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A crise das polícias, que se irradia do Ceará para vários estados, é um pesadelo antigo do qual o Brasil não consegue acordar. Só há uma notícia boa no ar: não se verifica no descalabro atual nenhum aumento da taxa de insensatez. A falta de juízo continua nos mesmos 100%.

Nos últimos anos, esse tipo de crise começou, evoluiu e terminou do mesmo jeito. Há uma sequência de irresponsabilidades. Os governadores sabem o que os espera. Mas não se previnem. Quando o caldo entorna, chamam as tropas federais. Na sequência, alguns governadores dobram os joelhos. Outros erguem a coluna vertebral.

No final, há muitos cadáveres, enormes prejuízos e poucas punições de amotinados. Quando a anormalidade volta ao normal, aprovam-se anistias no escurinho do Congresso. E o ciclo recomeça.

No Ceará, houve 51 assassinatos nas primeiras 48 horas do motim. Mais de um cadáver por hora. Antes da crise, a média de homicídios era de 6 por dia. Com a anistia, a lógica morre junto com os brasileiros que desceram à cova por falta de proteção policial.

Há duas novidades na crise atual: o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do time dos que se ajoelham, entregou um reajuste salarial de 41,7% aos policiais. Coisa que não orna com a ruína das arcas mineiras. A generosidade de Zema tornou mais difícil a vida dos governadores que desejam lidar com os seus amotinados com a coluna ereta.

A outra novidade é a superpolitização das polícias. Basta verificar o que se passa no Ceará para entender a natureza do fenômeno. O porta-voz dos PMs amotinados na cidade de Sobral é o vereador Sargento Ailton, eleito pelo partido Solidariedade.

Quem registrou em nome dos policiais o boletim de ocorrência contra o senador Cid Gomes, o insensato, foi o deputado federal cearense Capitão Wagner (Pros). Ele estava acompanhado de dois deputados federais de outros estados: o capitão Alberto Neto (Republicanos-AM) e a Major Fabiana (PSL-RJ).

Essa é a turma que se enrolará na bandeira da próxima anistia. Que será defendida no Congresso pela bancada da bala. E, se aprovada, será sancionada sem hesitações pelo capitão Jair Bolsonaro.

Enquanto essa lógica não for modificada, o Brasil continuará exercendo na plenitude o privilégio de escolher o seu próprio caminho para o inferno.