Reformas ficam obsoletas antes de ficar prontas
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Em público, autoridades de Brasília declaram que o interesse de Jair Bolsonaro pelas reformas econômicas continua vivo. Em privado, reconhecem que o empenho do presidente é tão pouco militante que o mercado começa a enviar coroas de flores para o PIB de 2020. Caem sobre as previsões de crescimento da economia as primeiras pás de cal. Surgem estimativas abaixo de 2%.
O desânimo com o ritmo das reformas já se insinuava na fragilidade dos indicadores do último trimestre de 2019. Houve retração da indústria, do comércio e dos serviços. A proliferação do coronavírus fora dos limites da China injetou nessa atmosfera de pessimismo uma dose de pânico. O susto veio de fora para dentro. E encontrou um país propenso a acreditar em assombrações.
A própria Secretaria do Tesouro Nacional prepara uma revisão dos seus prognósticos de crescimento, momentaneamente fixados em 2,4%. A perspectiva de resfriamento das caldeiras resultará em previsões menos ambiciosas de arrecadação de tributos. Vem aí o espetáculo do contingenciamento de verbas. Em duas semanas, a pasta da Economia deve mostrar o tamanho da sua tesoura.
A lógica recomendaria que Executivo e Legislativo se unissem para acelerar reformas como a tributária e a administrativa. Mas o ministro Paulo Guedes (Economia) e sua equipe ainda não informaram o que esperam da primeira. E Bolsonaro mantém a segunda há três meses no gavetão dos assuntos pendentes.
O avanço do coronavírus pede tranquilidade e juízo, mercadorias em falta no Brasil. No momento, apenas dois empreendimentos funcionam a pleno vapor no país: a fábrica de pés de cabra que o Congresso encostou no Orçamento da União e a usina de crises que Bolsonaro instalou no Planalto. Nesse ambiente, as reformas liberais de Paulo Guedes ficam obsoletas antes de ficar prontas.
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