Coronavírus deixou software do governo obsoleto
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O coronavírus tornou obsoleto o software que o governo tinha colocado para rodar em 1º de janeiro de 2019, na posse de Jair Bolsonaro. Obrigado a abandonar momentaneamente o triunfalismo das reformas liberais, o governo passou a operar no modo de negação. O processador de Jair Bolsonaro e de sua equipe econômica ficou sobrecarregado. A edição de uma medida provisória autorizando empresas a suspender contratos de trabalho por quatro meses impondo aos trabalhadores o salário zero foi uma evidência de que a placa do governo ferveu.
O absurdo durou menos de 24 horas. O governo foi compelido a revogar o trecho da medida provisória que refrescava a folha das empresas no auge da crise, reservando para os trabalhadores o confinamento com a geladeira vazia. A equipe de Paulo Guedes recuou não por convicção, mas por pressão. Bolsonaro chegou a defender a medida. Mas a cúpula do Congresso informou que, do jeito que estava, a medida provisória não ficaria. Cogitava-se inclusive devolver a MP para o Planalto, o que potencializaria o vexame.
O curioso é que o governo queria entregar aos empresários mais do que eles tinham pedido. Solicitava-se a possibilidade de reduzir jornada de trabalho com a correspondente redução dos contracheques. Em caso de suspensão dos contratos, entidades como a Confederação Nacional da Indústria pleiteavam a autorização para reduzir os salários à metade. O governo compensaria uma parte das perdas dos trabalhadores com renda de até dois salários mínimos, liberando verbas do seguro desemprego e do FGTS.
Com boa vontade, pode-se admitir que o governo errou. Com má vontade, pode-se supor que a equipe de Paulo Guedes não está programada para oferecer exibições de sensibilidade social. Nas duas hipóteses, fica evidente que há um descompasso entre o Ministério da Saúde e a pasta da Economia. Num setor, o planejamento. Noutro, medidas elaboradas em cima do joelho por uma equipe que roda um software vencido. Ou ajusta o programa rapidamente ou 2020 pode ser um ano ainda mais feroz.
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