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Josias de Souza

Bolsonaro fala em 'pacto' desde o discurso de posse

Colunista do UOL

01/04/2020 19h53

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Pronunciamentos de presidentes em rede nacional, como os discursos de posse, podem dizer muita coisa. Ou nada.

Ao discursar na sua cerimônia de posse, em 1º de janeiro de 2019, Jair Bolsonaro propôs, genericamente, "um pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para o Brasil".

Na noite de terça-feira, ao se dirigir aos brasileiros em rede nacional, o presidente propôs que "Parlamento, Judiciário, governadores, prefeitos e sociedade" se juntem "num grande pacto para a preservação da vida e dos empregos."

Ganha uma vacina contra o coronavírus quem for capaz de indicar uma iniciativa que Bolsonaro tenha tomado para promover o "pacto nacional" que ele sugeriu no dia da posse. Em 15 meses de governo, Bolsonaro produziu apenas tuítes e crises, não a concórdia.

Agora, poucas horas depois de recitar novamente a palavra "pacto", Bolsonaro divulgou um vídeo mentiroso nas redes sociais para atacar os governadores a quem ele supostamente estendera a mão em rede nacional. O vídeo continha uma cena mentirosa. E logo foi retirado do ar.

Foi a segunda vez que Bolsonaro invadiu os lares dos brasileiros em uma semana. Nesse curtíssimo espaço de tempo, o presidente foi do paraíso, onde o coronavírus era uma "gripezinha", ao inferno, onde a pandemia é "o maior desafio da nossa geração".

No pronunciamento da semana passada, Bolsonaro trazia a língua engatilhada. Atirou contra os meios de comunicação, governadores e prefeitos. Nesta semana, Bolsonaro falou de pacto num timbre comedido e respeitoso.

O Bolsonaro do primeiro discurso parecia brincar a sério de roleta-russa, sem se preocupar com as consequências das suas palavras. E a consequência foi o seu isolamento político.

No segundo discurso, o presidente continua brincando de roleta-russa. A diferença é que agora ele dispara palavras sensatas a esmo, protegido pela certeza de que manipula uma sinceridade completamente descarregada.

Para sair do isolamento, Bolsonaro precisa produzir gestos convincentes. As palavras de um presidente que fala em pacto nacional no dia da posse e volta a falar em pacto no curso do segundo ano de mandato já não valem muita coisa.