Até remédio vira veneno na retórica de Bolsonaro
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O presidente Jair Bolsonaro está desperdiçando a sua hora. Ele colocou raiva demais na sua receita. Fez isso num instante em que as coisas se tornaram tão complicadas que as soluções pareciam simples. Simples como o ABC.
A, surgiu um inimigo comum, o coronavírus; B, a guerra se ofereceu a Bolsonaro para que ele exercesse o papel de líder da nação; C, podendo elevar sua estatura, o presidente preferiu rebaixar o teto do seu gabinete.
Até medicamento vira veneno na retórica tóxica de Bolsonaro. O presidente achou razoável acusar dois dos mais renomados médicos do país, Roberto Kalil Filho e Davi Uip de ocultar por razões políticas informações sobre o uso de hidroxicloroquina em tratamentos pessoais contra o coronavírus. Insinuou que os doutores estariam a serviço do projeto político do governador paulista João Doria, que mordeu a isca da politização do remédio.
Um dos médicos, Roberto Kalil, admitiu ter usado a cloroquina, um anti-inflamatório, junto com corticoides e antibióticos. Livrou-se do vírus sem precisar ser entubado numa UTI. E recomenda o uso nos pacientes que, como ele, foram hospitalizados.
O depoimento de Kalil reforçou o acerto do governo ao atualizar portaria do Ministério da Saúde para estender o uso da cloroquina também para os casos graves, não apenas para pacientes em estado crítico.
O que não se compreende é o ódio de Bolsonaro, capaz de transportar um tema médico-científico para o campo da politicagem. A sucessão de 2022 ainda é um ponto longínquo na folhinha. Sabe-se que o presidente deseja se reeleger. Antes, precisa demonstrar capacidade de presidir o país.
O Brasil já teve outros dois presidentes movidos a ódio: Jânio Quadros e Fernando Collor. Também já teve uma presidente marcada pela incompetência: Dilma Rousseff. Foram três embustes. Se quiser, Bolsonaro pode fugir desses modelos. Ainda está em tempo.
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