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Josias de Souza

Brasil viveu 13 dias que não deveriam ter acontecido

Colunista do UOL

29/04/2020 23h36

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A desnomeação de Alexandre Ramagem para o posto de diretor-geral da Polícia Federal, nas pegadas da decisão do Supremo Tribunal Federal, serve de moldura para um período de 13 dias marcantes —13 dias que não deveriam ter acontecido. Nesse período, foram praticados atos que pioraram um governo que já é ruim.

Afastaram-se do governo dois ministros populares: Henrique Mandetta, da Saúde; e Sergio Moro, da Justiça. Ambos realizavam um trabalho bem avaliado pela clientela. Mandetta e Moro foram substituídos por personagens que estariam mais bem-postos se continuassem exercendo suas atividades anteriores.

Como consultor da área de Saúde, o oncologista Nelson Teich não estaria submetendo o Brasil ao vexame de assistir à movimentação de um ministro sem norte em meio a uma guerra sanitária que já produziu mais de 5 mil cadáveres. "E daí?", pergunta o presidente.

Como Advogado-Geral da União, o doutor André Mendonça não viveria o constrangimento de enfiar em sua biografia o título de ministro da Justiça de meia-tigela, sem o controle da cumbuca da Polícia Federal.

O ideal seria que todos os atos que o Planalto enviou para o Diário Oficial nos últimos 13 dias fossem desfeitos. Mas não há como reverter certas tolices. E mesmo a sandice desfeita por uma liminar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, pode ser ressuscitada, pois Jair Bolsonaro disse que não abandonou o "sonho" de acomodar Ramagem, o amigo dos filhos investigados, na chefia da Polícia Federal.

Por uma questão de protocolo, a confusão é chamada de presidente. Afinal, a confusão foi eleita por 57,7 milhões de eleitores. Mas o fato de todos chamarem a confusão de presidente não faz de Bolsonaro nada além de um personagem confuso. Nas últimas duas semanas, o Brasil foi presidido pela confusão. O presidente fez opção preferencial pela confusão.

Confundindo general com generalidade, recusou conselhos das fardas que o cercam. Confundindo presidente com divindade, atropelou o interesse público. Confundindo obsessão com legalidade, violou a Constituição. Confundindo cargo com propriedade, Bolsonaro acha que pode fazer o que bem entende. Não pode.