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Josias de Souza

Bolsonaro lida inadequadamente com PGR e STF

Colunista do UOL

25/05/2020 20h02

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Jair Bolsonaro adota em relação às autoridades que cuidam do inquérito em que é acusado de interferir politicamente na Polícia Federal dois comportamentos, ambos inadequados. Ele põe em dúvida a imparcialidade do Supremo e estimula as dúvidas sobre a parcialidade da Procuradoria-Geral da República. Em relação ao Supremo, Bolsonaro questiona a isenção do ministro Celso de Mello de um modo que lhe é conveniente. Em relação à Procuradoria, o presidente coloca a independência de Augusto Aras em xeque ao se comportar de maneira inconveniente.

Bolsonaro avalia que Celso de Mello cometeu crime de abuso de autoridade ao divulgar todo o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril. Se está insatisfeito com as decisões do relator do inquérito no Supremo, o presidente deveria questionar os despachos do magistrado por meio de recursos judiciais, não das redes sociais. Quanto à Procuradoria, o presidente deveria ter a sensibilidade de compreender a delicadeza do momento, evitando demostrações de intimidade como a visita que fez a Augusto Aras, autoconvidando-se para cumprimentar Carlos Alberto Vilhena, que assumiu o cargo de procurador federal dos Direitos do Cidadão.

Dono de uma retórica escorregadia, Augusto Aras dá sempre a impressão de ser a favor de tudo ou absolutamente contra qualquer coisa, desde que o futuro da sua carreira não fique comprometido. As palavras mais valiosas do procurador-geral costumam soar depois de conjunções adversativas como "mas", "porém", "contudo". Ao empossar o procurador Carlos Vilhena na chefia da área de Direitos do Cidadão, Aras disse que a República é composta de "entes autônomos", que devem agir "com independência, mas, acima de tudo, com harmonia para que a independência não se transforme no caos". Nada pode ser mais caótico nesse momento do que o excesso de intimidade.

Quando se convidou para ir à Procuradoria, Bolsonaro ouviu de Aras que seria aguardado "com a alegria de sempre". Essa cenografia reforça uma das peculiaridades mais deletérias do Poder. No cerimonial do Poder, a integridade faz requerimento, marca hora, e espera na antessala. A complacência vai pelo atalho da intimidade, passa pelo portão lateral, sobe pelo elevador privativo, e encontra a porta sempre aberta. É por conta dessas deturpações que o Planalto trata o arquivamento do inquérito contra Bolsonaro como jogo jogado.