Topo

Josias de Souza

Brasil real não se confunde com extremistas na rua

Colunista do UOL

01/06/2020 23h17

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Brasil real, que ainda preza a sensatez, não está representado nas manifestações de rua mais recentes. Esse pedaço do país sabe que convive com uma pandemia incompatível com aglomerações.

Se vivêssemos um país lógico, nenhuma manifestação deveria ocorrer. Mas elas se repetem há sete finais de semana, com a participação do presidente da República. A novidade do último domingo foi o surgimento de um contraponto.

Os apoiadores extremistas de Jair Bolsonaro, muitos deles defensores do fechamento do Congresso e do Supremo, ganharam a companhia das extremadas torcidas organizadas de times de futebol, que têm entre os seus membros muitos apologistas da violência.

O resultado era previsível. Houve confusão na Avenida Paulista. A polícia interveio com uma chuva de bombas de gás. E o Brasil forneceu a si mesmo e ao mundo as imagens da sua insensatez.

No momento, o país precisa de saúde, estabilidade, emprego e probidade. Nada disso se obtém com desavenças de rua, mas com muito trabalho. Ao priorizar a raiva num instante em que deveria pacificar o país e coordenar a busca de solução para os problemas reais, Bolsonaro corre o risco de estimular nas pessoas a crença de que o presidente não está à altura dos desafios. Se essa crença se consolida, o Brasil que está em casa pode sair às ruas.

Nessa hipótese, Bolsonaro talvez verifique que a ebulição não interessa a ninguém, muito menos ao seu governo. O brasileiro já se mobilizou por muitas causas justas. E obteve sucesso.

Quando roncou pelas eleições diretas, o asfalto derrubou um regime. Depois, colocou para correr dois presidentes da República. Avalizou o esforço anticorrupção da Lava Jato, abrindo as portas da cadeia para a oligarquia política e empresarial corrupta.

Esse ambiente favoreceu a eleição de Bolsonaro. Mas se o presidente não aproveita a oportunidade que recebeu da história, as ruas podem se convencer de que precisam reivindicar alternativas.