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Josias de Souza

Cercado de crises, Bolsonaro prioriza armamentismo

Colunista do UOL

04/06/2020 20h13

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O governo está rodeado de crises. Há a crise sanitária, a crise econômica e uma crise política que desafia as instituições. Num ambiente assim, ouvir o presidente da República deveria ser essencial. Mas escutar o que Jair Bolsonaro declara diariamente no cercadinho do Alvorada tornou-se uma atividade monótona. Escuta-se o presidente por incontáveis minutos sem que ele tropece numa nova ideia. Nesta semana, Bolsonaro voltou a se ocupar de uma de suas ideias fixas: o armamentismo.

Na quarta-feira, Bolsonaro disse a um apoiador que pedia a liberação do porte de arma para sua categoria profissional: "Quando a gente tiver maioria no Congresso a gente resolve essa questão." Nesta quinta, o presidente insinuou para simpatizantes do grupo de caçadores, atiradores e colecionadores de armas que prepara a revisão de portaria do Ministério da Justiça que inibe o registro, a posse, o porte e a comercialização de armas e munição.

A facilitação do acesso às armas foi promessa de campanha de Bolsonaro. Ele obteve vitórias nessa matéria. Entre elas, por exemplo, a aprovação no Congresso de projeto que ampliou o conceito de residência na área rural, permitindo, aos produtores rurais andar com uma arma em toda a sua fazenda, e não apenas na sua casa. O Congresso, por outro lado, barrou aquilo que a maioria dos parlamentares considerou excessivo.

Na reunião ministerial de 22 de abril, aquela em que os palavrões soaram mais alto do que a lógica, Bolsonaro construiu a teoria segundo a qual é preciso armar o povo para evitar um golpe, a escravização. Essa pregação não cheira bem. Tem um aroma venezuelano. E foi rejeitada por 72% dos brasileiros, segundo o Datafolha.

Mas o que mais preocupa não é o desejo maldisfarçado de fazer no país uma milícia chavista com sinal trocado. Isso não tem chance de prosperar. O que espanta é o esforço de Bolsonaro para transformar a Presidência em algo inútil. Daqui a pouco, as pessoas podem começar a pensar na transformação do Planalto num museu. No momento, sua única utilidade visível é a de atração turística.