Espiões de Heleno não viram elefante do centrão
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Desde que Jair Bolsonaro começou a deslizar para o colo do centrão, esperava-se pelo pior. Mas não se imaginava que o alarme soaria tão cedo. O vexame da nomeação, posse e demissão do presidente do Banco do Nordeste em menos de 24 horas ficará gravado na crônica do desgoverno como um aviso sobre os riscos a que estão novamente submetidos os cofres da República.
Descobriu-se que Alexandre Cabral, o escolhido do centrão, carrega atrás de si o rastro pegajoso de suspeitas de irregularidades que lhe são atribuídas desde a época em que presidiu a Casa da Moeda (2016 a 2019). A coisa está sob apuração no TCU, que estimou o prejuízo em cerca de R$ 2 bilhões. Um detalhe adicionou dose extra de constrangimento ao que já era espantoso.
Embora se vanglorie de submeter os currículos que lhe chegam por indicação política a um pente-fino da Abin, o Planalto tomou conhecimento das suspeitas levantadas pelo TCU por meio de notícia do Estadão —indício de que Bolsonaro tinha razão quando apontou, na reunião ministerial de 22 de abril, a ineficiência dos serviços de inteligência do seu governo.
"A gente não pode viver sem informação", ralhou o presidente. "Quem é que nunca ficou atrás da porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha tá comentando? Depois que ela engravida não adiante falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era."
No caso do Banco do Nordeste, a equipe de espiões do general Augusto Heleno (GSI), superior hierárquico da Abin, esqueceu de encostar a orelha na porta do centrão. Crítico contumaz dos outros Poderes, Heleno convive com espiões que não conseguem enxergar um elefante do centrão.
'Bolsonaro pode alegar que precisa conviver com o centrão por instinto de sobrevivência. Ou por uma noção míope de esperteza política. Mas ir atrás do centrão, cortejar o centrão, entregar a viabilidade do seu mandato às conveniências do centrão sem vigiar a manada do centrão é um prenúncio de desastre.
Mas há males que vêm para pior. Alexandre Cabral, o breve, fora indicado numa parceria de dois partidos controlados por mensaleiros: o PTB de Roberto Jefferson e o PL de Valdemar Costa Neto. Consumada a escolha, Valdemar torceu o nariz. Preferia outro prontuário. O enrosco deu a Valdemar a oportunidade de levar a Bolsonaro um novo azar, com uma tromba mais ajustada aos seus interesses.
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