Topo

Josias de Souza

Bolsonaro dá até a vigilância da Saúde ao centrão

Colunista do UOL

05/06/2020 21h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Desde que Valdemar Costa Neto, dono do PL (Partido Liberal) passou pelo presídio da Papuda como condenado do mensalão, criou-se para os presidentes que negociam cargos com partidos um dilema hamletiano: barrar Valdemar ou barrar Valdemar?, eis a questão. Jair Bolsonaro optou pela única alternativa não disponível.

Capitão da "nova política", Bolsonaro recebeu as demandas do Valdemar, dialogou com Valdemar, barganhou com Valdemar... Eis que, de repente, Bolsonaro concordou em entregar para o Valdemar, em meio a cofres como o de uma diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e o do Banco do Nordeste, também a Secretaria de Vigilância em Saúde. Esse é o órgão mais importante do Ministério da Saúde no combate ao coronavírus. Até outro dia era chefiado por Wanderson de Oliveira, um técnico de mostruário em epidemiologia.

O nome apresentado pelo ex-presidiário e Valdemar é o de Arnaldo Correia Medeiros, formado em Ciências Farmacêuticas, com mestrado em Bioquímica e Imunologia, e doutorado em Ciências Biológicas. Portanto, também é um técnico. A diferença é que as habilidades técnicas de Wanderson estavam a serviço do Estado. As habilidades do doutor Arnaldo estarão submetidas aos interesses do partido comandado pelo ex-presidiário Valdemar.

Para entender o fenômeno é preciso atrasar o relógio até outubro de 2014. Nessa época, o então juiz Sergio Moro ouviu o primeiro delator da Lava Jato, Paulo Roberto Costa. Ele era diretor de Abastecimento da Petrobras. Entregou o esquema da roubalheira. No final do depoimento, Moro perguntou se o delator queria acrescentar algo. E Paulo Roberto disse ter trabalhado por 35 anos na Petrobras. Durante 27 anos, não teve problemas. Foi a partir de sua nomeação como diretor, por indicação do Partido Progressista, que ele começou a roubar. Os políticos "usam a oração de São Francisco, que é dando que se recebe", disse Paulinho, como Lula o chamava.