Chamar barbárie policial de 'excesso' corresponde a uma segunda agressão
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Na era digital, o celular tornou-se uma arma poderosa contra a truculência policial. Com duas vantagens: Não atira para matar. E sempre acerta dois alvos com um disparo: o criminoso de farda e seus superiores hierárquicos, que são obrigados a a se explicar. Diante da fidelidade das imagens, certas explicações têm o efeito de uma segunda agressão.
Em São Paulo, por exemplo, o secretário-executivo da Polícia Militar, Álvaro Camilo, tem o hábito de apelidar a barbárie policial de "excesso". Ao declarar que não será condescendente com policiais violentos, o governador João Doria disse: "É incompatível com uma polícia bem treinada e bem preparada que uma minoria que representa menos de 1% possa comprometer 99% de uma polícia séria."
Nos últimos dez dias, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo registrou seis casos de barbaridades praticadas por policiais militares. No episódio mais grave, um PM de folga assassinou a tiros um adolescente. Confundiu-o com um assaltante.
No caso mais recente, um PM em serviço levou um jovem negro —rendido e desarmado— a desmaiar duas vezes. Primeiro, pressionou o joelho contra o peito do rapaz, levando a mão à garganta. Recuperado de um primeiro desfalecimento, o rapaz tomou uma gravata. E foi arremessado na viatura desmaiado.
Colocando-se nos sapatos de um familiar das vítimas, o secretário-executivo da PM paulista decerto encontrará um vocábulo mais adequado do que "excesso" para qualificar a desqualificação policial. E o governador talvez perceba que, do ponto de vista do morto ou do agredido, a PM foi 100% bandida.
Povo com medo da polícia e polícia com ojeriza do povo são patologias curáveis. O governo paulista promete "retreinar" a corporação. É um começo. Mas parece pouco. A truculência talvez diminuísse se fossem periodicamente levados à vitrine os nomes e as penalidades impostas aos policiais que estimulam as pessoas a jamais conversarem com a polícia, exceto em legítima defesa.
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