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Josias de Souza

Pacificação de Bolsonaro exige mais do que gogó

Colunista do UOL

25/06/2020 15h59

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Jair Bolsonaro tem o hábito da ofensa. Durante seus 28 anos de Câmara dos Deputados, exercitou a prerrogativa de ofender protegido atrás das prerrogativas de deputado. Depois de um ano e meio como presidente da República, descobriu que a grosseria, sem o escudo da imunidade parlamentar, pode dar problema. Com o nó no pescoço, o presidente se deu conta de que não convém xingar a mãe do leão, a menos que você já tenha atravessado a floresta.

No momento, Bolsonaro está no meio da floresta. Responde a inquérito criminal no Supremo, lida com pedidos de cassação na Justiça Eleitoral e assiste ao cerco judicial à máquina de moer reputações do bolsonarismo. Como se tudo isso fosse pouco, sobreveio a prisão do amigo Fabrício Queiroz. Até ontem, Bolsonaro queria jantar magistrados e parlamentares. Agora, prefere jantar com eles.

O presidente aproveitou uma cerimônia banal de lançamento de novas funções do Portal da Legislação —uma página com dados do Planalto, do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça— para falar em "entendimento" e "cooperação" com o Judiciário, a Câmara e o Senado. Pregou a "paz" e a "tranquilidade". Agradeceu a todos "pelo entendimento, pela cooperação e pela harmonia."

Até aqui, Bolsonaro dedicou-se a fabricar crises e colocar a culpa em terceiros. Nos últimos dois meses, empurrou para fora do governo um ministro da Justiça e dois ministros da Saúde. Entregou a cabeça de um ministro desmiolado da Educação. Convive com 1,2 milhão de infectados do coronavírus, 55 mil mortos e quase 13 milhões de desempregados. Mas não tem nada a dizer sobre eles.

Para convencer o país de que deseja a paz, Bolsonaro teria de enxergar a crise no reflexo do espelho. Mas isso ainda não aconteceu. Em privado, Bolsonaro ainda flerta com a superstição do mito. Pena. O brasileiro não quer mitos, deseja resultados. A pacificação de que fala Bolsonaro exige mais do que golpes de gogó.