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Josias de Souza

Grupo militar desmoralizou-se junto com Decotelli

Colunista do UOL

29/06/2020 19h37

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O grande diferencial de Carlos Alberto Decotelli no cargo de ministro da Educação seria a sua qualificação acadêmica. Depois da piada Velez Rodrígues e do desastre Abraham Weintraub, o brasileiro imaginou que seria brindado com uma gestão educacional técnica, comandada por alguém que exibia boa formação. Essa ilusão durou menos de 72 horas.

Descobriu-se que o doutorado que o professor Decotelli dizia ter feito na Argentina não existia. Verificou-se que o título de pós-doutor que ele assegurava ter obtido na Alemanha era de vidro e se quebrou. Até o mestrado que Decotelli fez na FGV está sob reexame por suspeita de plágio. O ex-pós-doutor tornou-se um pré-ministro. Embora sua nomeação já tenha sido publicada no Diário Oficial, Decotelli perdeu as condições de ser ministro da Educação.

O episódio concentra três problemas, todos muito graves. O primeiro é a desfaçatez de alguém capaz de ostentar um currículo que, para se aproximar da realidade, teve de passar por uma cirurgia plástica. O segundo é a inépcia do Gabinete de Segurança Institucional, a quem caberia checar as credenciais de candidatos a cargos públicos. Chefe do setor, o general Augusto Heleno revela-se capaz de tudo, menos de cumprir adequadamente suas funções. Acumulam-se erros comezinhos ao seu redor.

O terceiro problema é que o nome de Decotelli foi levado à mesa do presidente da República como uma indicação avalizada pela ala militar do governo, em contraposição ao grupo ideológico. Os generais do Planalto apresentaram Decotelli a Bolsonaro como um coelho retirado da cartola. Desmoralizaram-se junto com o professor. A Educação não merecia mais esse vexame.