Deve-se desejar a Bolsonaro o oposto do 'e daí?'
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A boa notícia é que Jair Bolsonaro passa bem. A má notícia é que, mesmo infectado pelo coronavírus, o presidente não se deu por achado. Voltou a exibir sintomas da patologia negacionista que o persegue ao longo da pandemia. Menosprezou um inimigo que se alojou no interior do seu organismo.
"Esse vírus é como uma chuva", voltou a dizer Bolsonaro, dando a entender que a infecção é inevitável e, para a maioria dos contaminados, inofensiva. É como se o presidente ignorasse a realidade ao seu redor.
Diante de um pé d'água, a primeira coisa a fazer é encontrar um guarda-chuva. Bolsonaro procurou o seu no serviço médico da Presidência da República. A segunda providência, é abrir o guarda-chuva. O presidente encontrou proteção adicional no Hospital das Forças Armadas.
Saúde de presidente é coisa séria. É reconfortante saber que Bolsonaro está cercado de cuidados. Mas nem todos os brasileiros dispõem da mesma sorte. O guarda-chuva da maioria não passa de uma armação sem pano. Mais de 65 mil pessoas, ensopadas, foram arrastadas para a morte. E a enxurrada prossegue.
A despeito disso, Bolsonaro achou que seria uma boa ideia explorar politicamente a própria infecção. Enalteceu a cloroquina. Deu entrevista presencial a emissoras de estimação, sujeitando os repórteres ao contágio. Disse que só não faria uma caminhada porque os médicos desaconselharam. E voltou a pregar o retorno à hipotética normalidade. "A vida continua. O Brasil tem que produzir."
Todo brasileiro de bom senso deve desejar a Bolsonaro oposto do que Bolsonaro desejou à sociedade. Não seria razoável repetir no Alvorada o que disse Bolsonaro em 23 de março: "Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. É a vida!" Seria uma indignidade reproduzir a pergunta que Bolsonaro fez em 24 de abril: "E daí?"
Espera-se, de resto, que o presidente descubra o valor do uso da máscara, cuja obrigatoriedade ele acaba de vetar. E que siga, finalmente, as recomendações médicas. À distância, os brasileiros devem oferecer a Bolsonaro o exemplo que ele se recusa a dar, torcendo pela saúde do presidente.
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