Difícil salvar empregos sem socorrer empresas
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Na economia, palavras, explicações e previsões são importantes. Mas o que conta é a realidade, que é feita de resultados. Na pandemia, a economia vive a sua fase São Tomé. É preciso ver primeiro. O governo toma suas decisões, aperta os botões que tem que apertar no seu painel de controles de Brasília. E espera que as pessoas, sempre tão imprevisíveis, se comportem como o planejado. E nem sempre isso acontece.
O governo acaba de editar duas portarias que a realidade tornou inevitáveis. Numa, prorrogou por mais 30 dias a flexibilização das regras trabalhistas. Tenta salvar empregos. Noutra, permitiu que trabalhadores demitidos sejam recontratados num prazo inferior a 90 dias, o que era proibido. Tenta reabrir vagas recém-fechadas. Para que essas duas providências surtam os efeitos desejados, é preciso assegurar a sobrevivência das empresas. É nesse ponto que o comportamento humano vem estragando os planos oficiais.
No mês passado, em audiência pública numa comissão mista do Congresso, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, reconheceu que o governo tem dificuldades para fazer chegar às micro e pequenas empresas as linhas de crédito que foram abertas para socorrê-las. Atribuiu o flagelo ao que chamou de "problema estrutural": a falta de crédito para os pequenos. O problema ainda não foi resolvido.
Quer dizer: muitos empresários não terão a oportunidade de aproveitar as portarias que preservam empregos pela simples razão de que seus negócios foram para as cucuias. O governo costuma se jactar de ter mantido a salvo dos efeitos do vírus algo como 11 milhões de empregos. Não é bem assim. Esse é o número de vagas que as medidas de proteção ao emprego teriam o potencial de preservar. Mas se não houver empresas, palavras, explicações e previsões sobre empregos não se transformarão em resultados.
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