Topo

Josias de Souza

Bolsonaro eleva cloroquina ao estágio de vacina

Colunista do UOL

13/08/2020 19h23

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A pandemia está deixando o governo zonzo. Em Brasília, o general Eduardo Pazuello, ministro interino da Saúde, disse a parlamentares que ainda não se sente seguro para adquirir a vacina da Rússia contra o coronavírus por falta de evidências científicas de sua eficácia. Por ora, prefere apostar na vacina desenvolvida em Oxford. Simultaneamente, num comício disfarçado de inauguração de obra no Pará, Jair Bolsonaro declarou que as mais de 100 mil mortes ocorridas no Brasil teriam sido evitadas se os doentes tivessem sido tratados desde o início com hidroxicloroquina.

Mesmo reafirmando que não há comprovação científica da serventia da cloroquina no tratamento de covid, Bolsonaro disse ser a "prova viva" de que o medicamento funciona. Ele desconsidera o fato de ter sido um paciente assintomático de Covid. Na prática, Bolsonaro chamou o seu ministro da Saúde, os cientistas, os chefes de Estado e a população mundial de imbecis. Dispondo de um remédio capaz de deter o coronavírus, o mundo permitiu que morressem mais de 750 mil pessoas. E a imbecilidade é contínua, pois a pilha de cadáveres não para de crescer.

Estava entendido que, no Brasil, a pandemia seria uma "gripezinha". Nas palavras de Bolsonaro, ditas lá atrás, o brasileiro estaria imune ao contágio, porque um sujeito que "mergulha no esgoto e não pega nada" não seria afetado por um vírus qualquer. Ainda assim, precavido, Bolsonaro mandou reforçar os estoques oficiais de cloroquina. Hoje, numa contabilidade oficial, estima-se que há comprimidos para 18 anos de uso. Para que vacina?

Bolsonaro precisa chamar o general Pazuello para uma conversa. O presidente deveria encomendar ao ministro um programa nacional de distribuição gratuita da cura da covid. Junto com caixas de cloroquina, os brasileiros receberiam um kit de maquiagem. Conteria base branca para tingir o rosto, batom para a pintar uma boca engraçada e uma bola vermelha para realçar o nariz. É preciso tratar a morte com mais reverência. Convém respeitar o sofrimento e a inteligência alheia.